Introdução: O diabetes mellitus é um problema de saúde pública global, caracterizado por elevação da glicemia, podendo levar a distúrbios no metabolismo lipídico e aumento do risco cardiovascular. O objetivo do presente estudo é investigar a relação entre a glicemia e as subfrações de lipoproteínas em descendentes alemães vivendo no Brasil que receberam diagnóstico de diabetes mellitus.
Métodos: Foram selecionados indivíduos com diabetes mellitus da linha de base do estudo de coorte SHIP-Brasil que se autodeclararam ser descendentes de alemães residentes no Brasil e tinham a cultura alemã preservada. Foram coletadas amostras de sangue, após jejum de 12 horas. O plasma foi utilizado para avaliação da glicemia por meio de kit comercial; perfil lipídico foi analisado em analisador automático, enquanto as subfrações de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL) foram analisadas no sistema Lipoprint®. Para avaliação do estado nutricional, peso e altura foram utilizados para cálculo do índice de massa corporal (IMC); e a circunferência da cintura (CC) também foi aferida. Foram realizadas análises descritivas dos dados e correlação parcial, ajustada para sexo, idade e IMC, com p-valor fixado em <0,05.
Resultados: A amostra incluiu 59 indivíduos (50,8% homens) com idade média de 62,1 (12,5) anos, IMC de 31,9 (5,2) kg/m², CC de 101,7 (16,9) cm e glicemia de 108,5 (34,3) mg/dL. O excesso de peso foi identificado em 75% (n=39); e risco cardiovascular associado à CC foi aumentado em 73,3% (n=38). Observou-se uma correlação negativa entre glicemia e HDL grande (%) (r= -0,656; p=0,001), sua concentração (mg/dL) (r= -0,800; p<0,001) e a razão HDL grande/pequena (r= -0,589; p<0,001). Já em relação ao percentual de HDL pequena, a glicemia apresentou correlação positiva (r=0,322; p=0,011). E, para as subfrações de LDL, a glicemia correlacionou-se negativamente com LDL grande (%) (r= -0,280; p=0,029) e com a razão LDL grande/pequena (r= -0,610; p<0,001), enquanto mostrou correlação positiva com LDL pequena (%) (r=0,629; p=0,001) e sua concentração (r=0,322; p=0,011).
Conclusão: Conclui-se que descendentes alemães com preservação da cultura alemã e diagnóstico de diabetes mellitus e controle glicêmico inadequado apresentam risco cardiovascular elevado associado a um perfil de subfrações lipoproteicas mais aterogênico. Esses resultados reforçam o impacto negativo da glicemia elevada no risco cardiovascular.