Introdução: A qualidade do padrão alimentar pode ser influenciada por fatores ambientais que interagem com características individuais, afetando desfechos de saúde. Este estudo teve como objetivo explorar a associação entre a qualidade da dieta e as doenças crônicas não transmissíveis em descendentes alemães no Brasil, considerando a preservação da cultura germânica. Métodos: Estudo com dados da linha de base da coorte SHIP-Brazil (n=1655). Foram realizadas entrevistas estruturadas sobre dados demográficos e preservação da cultura germânica. Foram analisados glicemia e perfil lipídico. O consumo alimentar foi avaliado por meio de questionário de frequência alimentar validado e as informações processadas com o programa Food Processor, versão 10.11. A comparação entre os grupos foi feita por teste t-student e Qui-quadrado; para as associações utilizou-se modelos de regressão linear e Logística, ajustado por sexo e idade. Resultados: Ao comparar os grupos com (n=1141) e sem (n=514) preservação da cultura germânica, os indivíduos que mantiveram a cultura apresentaram menor prevalência de diabetes mellitus (DM) (6,1% vs 16,6%; p<0,001) e dislipidemia (26,4% vs 45,5%; p<0,001), e maior prevalência de hipertensão arterial sistêmica (HAS) (38,7% vs 23,2%; p<0,001). Quanto ao consumo alimentar, os indivíduos que preservaram a cultura germânica apresentaram maior ingestão de carboidratos (485,3 ± 253,4 g vs 475,7 ± 245,5 g; p=0,019), fibras (40,6 ± 20,6 g vs 38,7 ± 19,0 g; p<0,001), gorduras saturadas (31,7 ± 17,0 g vs 30,5 ± 15,2 g; p=0,016) e ômega-3 (1,9 ± 1,1 g vs 1,8 ± 1,0 g; p=0,012). A adequação de ômega-3 foi associada a maior concentração de lipoproteína de alta densidade (HDL-c) (B=2,1, p<0,001), menor concentração de triglicerídeos (B=-5,8, p=0,016) e menor razão colesterol total/HDL-c (B=-0,118, p=0,030). A adequação de fibras foi associada a menores concentrações de triglicerídeos (B=-24,1, p<0,001), glicemia (B=11,8, p<0,001), razão triglicerídeos/HDL-c (B=-1,06, p<0,001), além de menores chances de HAS (OR=-0,151, p=0,006), DM (OR=-0,342, p<0,001) e dislipidemia (OR=-0,102, p=0,022). A adequação de gorduras saturadas foi associada a menor glicemia (B=-7,1, p<0,001) e menores chances de dislipidemia (OR=-0,347, p<0,001). Além disso, a adequação de gorduras totais da dieta diminuiu as chances de DM (OR=-0,489, p<0,001). Conclusão: A menor prevalência de DM e dislipidemia na preservação da cultura germânica foi associada a fatores dietéticos. Já a maior prevalência de HAS, apesar da relação inversa com fibras, sugere a influência de outros fatores.