O acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda principal causa de morte no mundo, sendo responsável por aproximadamente 11% de todos os óbitos e afetando mais de 13 milhões de pessoas anualmente. A doença de Chagas (DC), causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é uma doença tropical negligenciada que afeta principalmente populações na América Latina, mas tem sido cada vez mais reconhecida como um problema de saúde global devido à migração e globalização. Estudos anteriores sugerem que a cardiomiopatia chagásica crônica, uma manifestação comum da doença de Chagas, pode contribuir para um risco aumentado de eventos tromboembólicos, incluindo AVC. No entanto, há uma escassez de evidências abrangentes que sintetizem os dados disponíveis sobre essa associação.
O objetivo desta revisão sistemática e meta-análise foi avaliar se a infecção pela doença de Chagas aumenta o risco de AVC em pacientes.
Foi realizada uma busca sistemática nas bases de dados PubMed, Embase, Cochrane Central e Scielo para identificar estudos que analisaram a prevalência de AVC em pacientes com DC em comparação com um grupo controle sem a doença. Os dados foram analisados utilizando o método de Mantel-Haenszel com intervalos de confiança (IC) de 95%. Os desfechos binários foram calculados usando a razão de chances (OR). As análises estatísticas foram realizadas no RStudio, versão 4.2.3, e valores de p<0,05 foram considerados estatisticamente significativos.
A busca inicial resultou em 2.264 estudos. Após a remoção de registros duplicados e a triagem dos estudos com base nos títulos e resumos, 15 estudos atenderam aos critérios predefinidos para revisão completa do texto. Foram incluídos 9 estudos, totalizando 4.562 pacientes, dos quais 1.738 (36,7%) tinham DC. A maioria dos pacientes era do sexo masculino, com idade média variando entre 49 e 77 anos. A análise agrupada demonstrou que, em comparação com o grupo controle, a presença de DC estava associada a um maior risco de AVC (OR 2,08; IC 95% 1,17–3,69; p=0,012). Na análise de subgrupo de pacientes com cardiomiopatia chagásica, observou-se que a probabilidade de AVC era maior entre os indivíduos com DC (OR 1,74; IC 95% 1,01–3,01; p=0,046; I²=51%).
A DC está significativamente associada a eventos cerebrovasculares, especialmente em pacientes com cardiomiopatia. Esses achados ressaltam a necessidade de estudos prospectivos em pacientes com cardiomiopatia chagásica para determinar a relevância prognóstica dos eventos cerebrovasculares e avaliar o papel da anticoagulação terapêutica na prevenção primária.