Pacientes cardiopatas requerem frequentemente tratamentos odontológicos que demandam planejamento cuidadoso, especialmente sob terapia antitrombótica. O manejo cirúrgico deve equilibrar riscos de sangramento aumentado e tromboembolismo, com aboradagem multidisciplinar para segurança e bons desfechos. Paciente do sexo masculino, 78 anos com histórico de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e insuficiência cardiaca com fração de ejeção reduzida, internado devido infarto agudo do miocárdio (IAM) há 7 dias, com troponina positiva desde a primeira amostra. Fazia uso de ácido acetilsalicílico 100mg/dia, clopidogrel 75mg/dia, enoxaparina 40mg/0,4mL/dia, configurando terapia antitrombótica tripla, além de metoprolol 25mg/dia, atorvastatina 40mg/dia, espirinolactona 25mg/dia e mononitrato de isossorbida 20mg/dia. Foi solicitada avaliação odontológica com a queixa do paciente de que "tinha um dente muito mole e estava doendo", sendo observado um terceito molar superior esquerdo com mobilidade grau 3, associado ao risco de broncoaspiração. Considerando o quadro clínico geral, optou-se pela exodontia sob anestesia local em ambiente hospitalar, garantindo suporte médico imediato em caso de intercorrências. Foi estabelecido pela equipe de odontologia o contato proximo ao paciente para estabelecer vinculo e reduzir o estresse, uma vez que o impacto emocional poderia agravar sua condição cardiovascular. O procedimento cirúrgico foi realizado após liberação da equipe de cardiologia e anestesiologia 14 dias após o IAM, de forma que técnicas minimamente traumáticas para redução do tempo operatório e risco de sangramento excessivo foram utilizadas associadas ao uso de manobras hemostáticas locais que incluiram a instalação de esponja de fibrina no alvéolo pós exodontia, sutura em massa e aplicação de pasta de ácido tranexâmico sob a região. Além disso, foi prescrita lavagem bucal com acido tranexâmico em caso de hemorragia local. O paciente permaneceu estável durante e após o procedimento, sem sinais de sangramento excessivo ou complicações sistêmicas. O controle pós operatório foi realizado 24 e 48 horas após o procedimento, não havendo intercorrências. Este caso destaca a importância do planejamento odontológico e da abordagem interdisciplinar em cardiopatas de alto risco. Procedimentos sob anestesia local, em ambiente hospitalar e com suporte médico, podem ser uma abordagem segura. Estratégias hemostáticas locais e acompanhamento rigoroso foram fundamentais para um desfecho favorável, reforçando a necessidade de um manejo individualizado nesses casos.