Introdução: A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é a doença cardíaca genética mais prevalente, com uma variabilidade fenotípica ampla, sendo os sintomas mais comuns a dispneia aos esforços, dor torácica, síncope e palpitaçõesA dor torácica, pode ocorrer mesmo na ausência de doença arterial coronariana (DAC) e está associada a mecanismos como desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio, disfunção microvascular e compressão de vasos intramurais. Esse sintoma é especialmente relevante em avaliações no pronto-socorro, particularmente em pacientes sem diagnóstico prévio de CMH que apresentam dor torácica suspeita para DAC. Nesse contexto, a cintilografia de perfusão miocárdica (CPM) desempenha um papel fundamental na investigação diagnóstica e estratificação de risco.
Métodos:Foram incluídos pacientes que procuraram atendimento em pronto socorro (PS) de hospital terciário de cardiologia devido a dor torácica suspeita de DAC, sem diagnóstico prévio de CMH e sem alterações em marcadores de necrose miocárdica. Todos os pacientes realizaram cintilografia de perfusão miocárdica com sestamibi-99mTc associada à prova funcional com dipiridamol.
Resultados:Em todos os casos foram identificados achados típicos de CMH, como aumento da concentração de sestamibi-99mTc nas regiões apical e/ou septal, os quais foram posteriormente confirmados por outros métodos de imagem, como ecocardiograma, angiotomografia ou ressonância magnética cardíaca.Dois pacientes apresentaram áreas concomitantes de isquemia de pequena a média extensão na CPM (paciente 1 e 2), ambos com angiotomografia de coronária normais. Entre os três pacientes sem alterações isquêmicas na perfusão, dois (paciente 3 e 4) foram submetidos a angiotomografia de coronárias, com ausência de lesões coronarianas e um deles (paciente 5) foi submetido a cateterismo cardíaco com lesão em coronária direita de 70%. Este último foi submetido a ressonância magnética com estresse farmacológico, confirmando ausência de isquemia.
Conclusões: Essa série de casos destaca o papel da cintilografia de perfusão miocárdica como ferramenta diagnóstica importante em pacientes com dor torácica suspeita de DAC, possibilitando a identificação de diagnósticos diferenciais como a CMH, mesmo em cenários clínicos desafiadores.