Padrões alimentares com elevada ingestão de carboidratos simples e reduzida ingestão de fibras alimentares promovem alterações no controle glicêmico, gerando aumento do risco cardiometabólico. Essas alterações estão relacionadas, em parte, à desregulação de mecanismos epigenéticos, incluindo modulação na expressão de microRNAs que regulam a expressão de genes relacionados à via de sinalização da insulina. Objetivo: Investigar a associação entre a expressão plasmática do miR-146a e do miR-126, ingestão de carboidratos e marcadores do metabolismo glicêmico em adultos. Métodos: Estudo transversal populacional com subamostra de 188 adultos (20 a 59 anos) da cidade de São Paulo. O consumo alimentar foi avaliado por dois recordatórios de 24 horas. As medidas antropométricas – peso corporal, estatura, índice de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura (CC) – foram coletadas presencialmente e o perfil glicêmico foi determinado pelas concentrações plasmáticas de glicose e insulina. A expressão plasmática do miR-146a e do miR-126 foi quantificada pela técnica RT-qPCR. Associações entre o perfil de expressão dos microRNAs e as demais variáveis foram investigadas por meio de modelos lineares generalizados (MLG), com nível de significância de 0,05. Resultados: A amostra foi composta majoritariamente por mulheres (54%), com idade média de 40,5 ± 0,83 anos. A ocorrência de sobrepeso foi observada em 58% dos indivíduos e CC alterada em 68,09%. A ingestão média de carboidratos totais foi 231,37 ± 1,96 g/dia, significativamente maior em mulheres (p = 0,015), enquanto o consumo de fibras foi 16,74 ± 0,31 g/dia, superior nos homens (p <0,001). Cerca de 32% dos indivíduos apresentaram glicemia em jejum elevada e 43% foram classificados com resistência à insulina (HOMA-IR > 2,7). A ingestão de fibras alimentares associou-se positivamente à expressão plasmática do miR-146a (p=0,003) e do miR-126 (p <0,001), enquanto a ingestão de carboidratos totais associou-se positivamente com miR-146a (p=0,001), mantendo-se significativas após ajuste por energia e sexo. O miR-146 e o miR-126 associaram-se positivamente ao HOMA-β (p=0,025 e p=0,007, respectivamente), e o miR-126 apresentou associação negativa com o HOMA-IR (p=0,038). As associações se mantiveram independentemente das variáveis de consumo, indicando um papel regulador desses microRNAs no metabolismo glicêmico. Conclusão: A ingestão de carboidratos apresentou associações com expressão do miR-146a e do miR-126, os quais estão associados à via de sinalização da insulina e à redução do risco de doenças cardiovasculares.
