INTRODUÇÃO: Bloqueios intraventriculares (BIV) são distúrbios nativos do sistema de condução intracardíaco, comumente presentes na Cardiopatia Chagásica Crônica. Recentemente, emergiu o conceito de bloqueio de ramo esquerdo (BRE) induzido, secundário à estimulação do ventrículo direito (portadores de marcapasso). Alguns estudos descreveram as taxas de ocorrência e características clínicas dos BIV nativos, sem considerar a importância do BRE induzido.
OBJETIVO: Avaliar as características clínico-funcionais de pacientes com BIV em uma coorte de larga escala de pacientes com Cardiomiopatia Chagásica Crônica, considerando os distúrbios nativos e o BRE induzido.
METODOLOGIA: Trata-se de um estudo clínico, observacional, transversal e retrospectivo, que envolveu pacientes consecutivos com sorologia positiva para Doença de Chagas, matriculados em um hospital de atenção terciária em cardiologia. Utilizando a ferramenta ‘InstaBase’, que opera por meio de inteligência artificial (IA), todos os pacientes tiveram os seguintes dados coletados do prontuário eletrônico: idade, sexo, classe funcional de insuficiência cardíaca, fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e tipo de BIV. Os pacientes foram distribuídos em 4 grupos: BRE nativo, BRE induzido, Bloqueio de Ramo Direito (BRD) e sem BIV. Os dados foram analisados por meio do teste ANOVA e qui-quadrado; o valor de p<0,05 foi considerado significativo.
RESULTADOS: Foram analisados os dados de 6.276 pacientes consecutivos acompanhados no período de novembro de 1999 a novembro de 2024. Dentre esses, foram selecionados, por meio de IA, 3.652, sendo 1.673 do sexo masculino, com idade média de 68,8±12,4 anos. No grupo BRE, foram incluídos 223 (6,1%) pacientes; no BRE induzido: 849 (23,2%); no BRD: 1.106 (30,3%); e no grupo sem BIV: 1.474 (40,4%). Os grupos foram similares em relação às variáveis sexo e idade; a FEVE foi diferente entre os grupos (p<0,0001) – BRE nativo: 35,9±14,8%; BRE induzido: 40,9±15,7%; BRD: 45,9±16,3%; e sem BIV: 49,6±15,7%. As taxas de classe funcional avançada (III/IV) foram mais elevadas (p<0,00001) nos grupos BRE nativo e BRE induzido (29,1% e 27,0%) em relação ao BRD e ao grupo sem BIV (21,7% e 19,1%).
CONCLUSÕES: Nesta coorte de larga escala de pacientes com Cardiomiopatia Chagásica Crônica selecionados por IA, o BIV menos prevalente foi o BRE nativo, enquanto o de maior prevalência foi o BRD. Os pacientes com BRE nativo apresentaram o pior comportamento clínico-funcional, similar ao dos pacientes com BRE induzido. Portadores de BRD tiveram comportamento similar ao dos pacientes sem BIV.