Introdução: Extrassístoles ventriculares (EV) que aparecem na fase de recuperação após o teste ergométrico, se associam à maior ocorrência de eventos cardiovasculares em comparação às EV presentes no esforço. Entender se o estresse psicossocial autorreferido pode auxiliar na triagem, assim como, na identificação de arritmias no indivíduo assintomático se faz necessário.
Objetivo: Verificar se as ocorrências das EVs são maiores em adultos que referem estresse psicossocial na sua rotina.
Métodos: 282 adultos assintomáticos do ponto de vista cardiovascular, foram divididos em dois grupos de acordo com o estresse psicossocial autorreferido, se sim ou se não, formando os grupos daqueles que não se consideraram estressados (-E, n=106), e aqueles que se consideraram estressados (+E, n=176). Todos os participantes foram submetidos ao teste ergométrico, realizado em esteira rolante. Durante o repouso, o esforço e na recuperação, a frequência cardíaca (FC), a pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD), foram aferidas. Além disso, a todo tempo estava sendo realizado o eletrocardiograma (ECG). Foram consideradas EV os traçados do ECG anômalos, com alargamento do QRS e que foi descartado ser artefato. Os critérios de inclusão foram: atingir FC submáxima para a idade (≥85%) e a duração do teste de pelo menos 6 minutos de esforço e 6 minutos de recuperação. Foram considerados critérios de exclusão: PAS ≥180mmHg e/ou PAD ≥110mmHg pré-teste, presença de EV no repouso e não foram incluídos testes com o ECG incapaz de ser interpretado.
Resultados: A ocorrência das EV foi maior no grupo +E, estando presente em 25 participantes (14% vs. 4%; p=0,0044). Não houve diferença entre a idade e a distribuição de sexo nos grupos estudados. O índice de massa corpórea (IMC) (26,0 ± 3,9 kg/m² vs. 27,1 ± 4,3 kg/m²; p=0,0178) e a circunferência abdominal (CA) (91,9 ± 13,2 cm vs. 96,7 ±13,2 cm; p=0,0009) estavam maiores no grupo +E. A FC, PAS e PAD em repouso e durante o esforço, não diferiram entre os grupos. No entanto, a PAS do sexto minuto da recuperação estava maior no grupo +E (129 ± 12 mmHg vs. 133 ± 10 mmHg; p=0,0195). Por fim, o tempo de teste foi menor no grupo +E (435 ± 101 segundos vs. 503 ± 154 segundos; p<0,0001).
Conclusão: Adultos com o estresse psicossocial autorreferido podem ter maior ocorrência de EV na recuperação após o teste ergométrico. Portanto, reforçamos que a investigação do estresse psicossocial na rotina do paciente assintomático, além do emprego do teste de esforço para a detecção e diagnóstico das EV, são necessários na prática clínica.