Este relato descreve a ablação bem-sucedida de uma arritmia ventricular (VA) originada no sulco interventricular anterior epicárdico em um adolescente de 16 anos. Relato: Um jovem de 16 anos procurou pronto socorro com queixas de palpitações recentes e dispneia aos esforços. Seu histórico médico incluía glomerulonefrite membranoproliferativa primária (MPGN) em remissão, tratada com prednisona e azatioprina, além de hipertensão secundária controlada com ramipril e anlodipina. O exame físico revelou ritmo cardíaco irregular, sem sinais de insuficiência cardíaca congestiva. O ECG inicial indicou características de VA. O paciente foi encaminhado para avaliação eletrofisiológica. O mapeamento endocárdico inicial apontou um local próximo ao ápice do ventrículo direito, com 92% de correlação do QRS. Contudo, a ablação nesse ponto resultou em bloqueio de ramo direito (BRD) sem eliminar as VAs. O mapeamento epicárdico subsequente identificou a origem da arritmia na seção média do sulco interventricular anterior. A ablação por radiofrequência (RF) foi realizada com sucesso, mantendo um guia na artéria descendente anterior (LAD) como precaução. Após o procedimento, o paciente ficou livre de arritmias e sem sinais de lesão na LAD. Considerou-se insuficiência cardíaca dissincrônica devido à alta carga de VA. A ressonância magnética cardíaca revelou insuficiência cardíaca biventricular severa (LVEF 31%), sem realce tardio com gadolínio, substituição de tecido fibroso ou anomalias na parede do ventrículo direito. Interpretou-se como VA idiopática causando disfunção ventricular secundária. Discussão: Este caso enfatiza a importância de considerar fontes epicárdicas de VA quando o mapeamento endocárdico é inconclusivo. VAs epicárdicas idiopáticas geralmente se originam do crux do coração ou do ápice do ventrículo esquerdo, tornando a origem no sulco interventricular incomum. A presença de gordura epicárdica nessa região pode contribuir para a arritmogênese. Arritmias ventriculares com padrão QS nas derivações I e V1-V6 podem indicar a necessidade de mapeamento epicárdico precoce, especialmente quando o mapeamento de estimulação é insuficiente ou não há sinal local mais precoce durante o mapeamento endocárdico. Conclusão: O sulco interventricular, estrutura anatômica que separa os ventrículos, tem relevância significativa na condução elétrica cardíaca. A compreensão eletrofisiológica dessa área é crucial para identificar e tratar arritmias complexas, como demonstrado neste caso de VA epicárdica incomum em um paciente adolescente.