Introdução: A cirurgia revascularização do miocárdio (CRM) melhora a sobrevida, mas os resultados dependem da capacidade funcional pós-cirurgia. O teste de caminhada de seis minutos (TC6) avalia a capacidade de exercício, mas não revela suas causas de limitação. Sensores de análise cardiopulmonar durante o TC6 permitem monitorar em tempo real o VO2, ventilação e frequência cardíaca, ajudando a entender as mudanças fisiológicas pós-operatórias.
Objetivo: Este estudo tem como objetivo: 1) comparar a cinética de captação de oxigênio (VO2) e as restrições ventilatórias durante o TC6 entre os períodos pré e pós-operatório de CRM; 2) determinar as principais causas de limitação do exercício pós-operatório; e 3) explorar a correlação entre parâmetros cinéticos, respostas cardiopulmonares, força muscular ventilatória e citocinas inflamatórias.
Métodos: Estudo coorte com indivíduos adultos submetidos a CRM eletiva avaliados no pré e pós-operatório. Estes foram submetidos ao TC6 utilizando sensores espirométricos e analisadores de gases (OxyconMobile) para avaliar a cinética do VO2 e as respostas cardiopulmonares durante o exercício submáximo. Os parâmetros cinéticos foram ajustados para extrair o tempo médio de resposta corrigido pelo trabalho (wMRT). A função pulmonar e a força muscular respiratória foram avaliados por espirometria e manovacuometria. As citocinas inflamatórias foram analisadas a partir de amostras de sangue usando a tecnologia de ensaio imunoenzimático.
Resultados: Foramincluídos 104 indivíduos e finalmente analisados 25. Os pacientes apresentaram prejuízo na capacidade funcional (distância do TC6’: 439 ± 89,4 vs. 311 ± 97,2 metros; p < 0,001) e atraso na cinética de VO2 (wMRT: 1,47x10-3 ± 0,88x10-3 vs. 3,72x10-3 ± 1,88x10-3; p < 0,001) após CRM. A limitação ventilatória, evidenciada pela reserva ventilatória <15%, foi a principal causa de limitação ao esforço, afetando 40% da coorte. Houve redução da força muscular ventilatória no pós-operatório, com consequente correlação positiva e moderada com os parâmetros do TC6 (p<0.01). Todas as citocinas inflamatórias apresentaram correlação positiva e moderada com a cinética do VO2, pelo wMRT (IL-10*wMRT: rho = 0,50; p<0.00, IL-6*wMRT: rho = 0,51; p<0,001, IL-8*wMRT: rho = 0,53; p<0.001).
Conclusão: O TC6 no pós-operatório revelou atraso na cinética de VO2 e restrições ventilatórias pronunciadas após a CRM. A limitação ventilatória surgiu como causa primária de intolerância ao esforço, com a força muscular ventilatória e o estado inflamatório como fatores-chave.