Fundamentos: A anemia pré-operatória está associada a piores desfechos em pacientes de alto risco, mas seu impacto em indivíduos de menor risco ainda é pouco explorado. Evidências recentes sugerem que níveis reduzidos de hemoglobina podem influenciar negativamente a sobrevida mesmo nessa população, justificando a necessidade de investigação mais aprofundada. Objetivo: Avaliar se a hemoglobina pré-operatória é um preditor independente de mortalidade hospitalar em pacientes de baixo risco cirúrgico submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica isolada. Métodos: Estudo de coorte prospectivo com 4.288 pacientes submetidos consecutivamente à cirurgia entre 2010 e 2024. Foram incluídos 2.772 pacientes de baixo risco cirúrgico (EuroScore II ≤ 2%), dos quais 1.186 foram pareados por escore de propensão e divididos em Grupo Sem Anemia (n = 593) e Grupo Com Anemia (n = 593). As variáveis basais e operatórias foram comparadas entre os grupos, sem diferenças significativas. A relação entre hemoglobina pré-operatória e mortalidade foi avaliada por regressão logística bivariada e ajustada para fatores de confusão Resultados: Nenhuma diferença significativa foi observada nos desfechos clínicos primários (AVC, IAM, fibrilação atrial, nova cirurgia, MACCE ou tempo de internação). No entanto, a mortalidade hospitalar foi maior no Grupo Com Anemia (4,7% vs. 2,7%, p = 0,065). A média de hemoglobina foi significativamente menor nos pacientes que evoluíram a óbito (11,4 ± 2,1 vs. 12,4 ± 1,7 g/dL; p < 0,001). A regressão logística bivariada revelou que a hemoglobina foi um preditor independente de óbito, com aumento de 25,8% na razão de chances (OR) para cada redução de 1 g/dL (p = 0,012), associação que persistiu após ajustes para idade, comorbidades e função ventricular. Conclusão: A hemoglobina pré-operatória foi identificada como um preditor independente de mortalidade hospitalar em pacientes de baixo risco submetidos à revascularização miocárdica, apesar da ausência de impacto significativo nos demais desfechos clínicos. Esses achados reforçam a importância da otimização da hemoglobina no pré-operatório, mesmo em populações consideradas de menor risco.