Introdução: A doença de Chagas é uma causa relevante de miocardiopatia na América Latina, associada a distúrbios da condução e arritmias, podendo exigir dispositivos cardíacos implantáveis. Há poucos estudos sobre sintomas autonômicos nesses pacientes, e a literatura é inconsistente sobre a maior incidência de tontura, síncope ou resposta positiva ao Tilt Test. Objetivo: Avaliar se pacientes chagásicos com dispositivos apresentam maior prevalência desses sintomas em relação a não chagásicos. Métodos: Entre 2010 e 2024, analisaram-se 90 pacientes com dispositivos cardíacos, 31 com sorologia positiva para Chagas. Compararam-se as frequências de tontura, síncope e Tilt Test positivo entre os grupos, além da estratificação por tipo de dispositivo. Testes qui-quadrado avaliaram a associação entre Chagas e sintomas, e regressão logística ajustou os resultados por idade, sexo, FEVE e comorbidades. Resultados: Pacientes chagásicos apresentaram tontura mais frequentemente que não chagásicos (p = 0,015), e a análise multivariada confirmou a associação independente (β=2,99; IC95% 1,02-8,79; p=0,045). Não houve diferença significativa entre os grupos para síncope (p = 0,777) ou resposta positiva ao Tilt Test (p = 0,058). O ajuste por idade, sexo e FEVE não alterou os achados. As médias de idade (p = 0,344) e FEVE (p = 0,533) foram semelhantes entre os grupos. Conclusão: Apesar da ausência de associação entre Chagas e síncope ou Tilt Test positivo, a maior frequência de tontura sugere impacto da disautonomia nesses pacientes, possivelmente refletindo alteração autonômica e perfusão cerebral, mesmo com um dispositivo cardíaco. Esses achados ressaltam a necessidade de uma abordagem multidimensional na avaliação clínica dos pacientes chagásicos e incentivam investigações sobre estratégias para mitigar a disautonomia. Estudos prospectivos podem esclarecer se intervenções específicas melhoram a qualidade de vida desses indivíduos.