Introdução: As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no Brasil, e a cirurgia de revascularização do miocárdio (CRVM) e as trocas valvares são fundamentais no tratamento da doença arterial coronariana avançada. No entanto, a presença de comorbidades pode impactar os desfechos pós-operatórios, aumentando a mortalidade e o tempo de internação. Ferramentas como o European System for Cardiac Operative Risk Evaluation (EuroSCORE) e o Society of Thoracic Surgeons Risk Score (STS Score) auxiliam na estratificação de risco e no planejamento perioperatório. Este estudo visa avaliar o impacto das comorbidades nos desfechos pós-operatórios de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas (CC) em um hospital universitário. Métodos: Estudo retrospectivo e observacional, baseado na análise de prontuários de pacientes submetidos a CC entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023 em um hospital universitário. Foram coletados dados demográficos, clínicos, tipo de cirurgia, comorbidades e desfechos pós-operatórios. A relação entre comorbidades e mortalidade foi analisada pelos testes Exato de Fisher e Mann-Whitney-U, considerando p<0,05 como estatisticamente significativo. Resultados: A amostra incluiu 110 pacientes, com predomínio do sexo masculino (60%) e idade média de 60,08 ± 11,16 anos. As cirurgias mais comuns foram CRVM (42,7%) e trocas valvares (40,9%), com tempo médio de circulação extracorpórea de 104,5 ± 47,11 minutos. A comorbidade mais prevalente foi hipertensão arterial sistêmica (81,23%), seguida por doença arterial coronariana (53,64%) e diabetes mellitus (34,55%). A taxa de mortalidade hospitalar foi 20%, sem diferença entre os sexos. Não houve associação entre comorbidades isoladas e mortalidade, mas pacientes que evoluíram para óbito tinham maior número de comorbidades (média de 3,05), com correlação estatisticamente significativa (p=0,001). Entre as principais complicações pós-operatórias, destacaram-se hipotensão com necessidade de vasopressores (58,18%), derrame pleural (21,82%) e reintubação (13,63%). Conclusão: A carga total de comorbidades foi um fator preditor independente de mortalidade em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, reforçando a importância da avaliação global na estratificação de risco, conforme o EuroSCORE e o STS Score. Pacientes com múltiplas comorbidades tiveram maior taxa de complicações e internações prolongadas, ressaltando a necessidade de estratégias de manejo perioperatório personalizadas e reabilitação precoce para redução da morbimortalidade.