Introdução: O infarto agudo do miocárdio de ventrículo direito (IAMVD) ocorre em 25 a 50% dos IAM de parede inferior, geralmente por oclusão da artéria coronária direita proximal aos ramos marginais. Porém, pode ocorrer por oclusão de artéria circunflexa dominante.O espectro de manifestações clínicas varia desde casos sem repercussão hemodinâmica até a casos de choque cardiogênico com elevada morbimortalidade, porém com características hemodinâmicas distintas em relação ao choque de ventrículo esquerdo.Objetivo: Avaliar as características clínico-epidemiológicas de pacientes com IAMVD em uma rede municipal de pacientes com IAM com supradesnível de segmento ST (IAMCSST) sumetidos à estratégia fármaco-invasiva. Registro clinicaltrials NCT 02090712.Métodos e resultados: Foram analisados os pacientes com diagnóstico confirmado de IAMCSST submetidos à fibrinólise em hospitais secundários e transferidos sistematicamente ao centro terciário para realização de cateterismo cardíaco, ao longo do funcionamento da rede municipal entre os anos de 2010 e 2021. O IAMVD foi definido pela presença de quadro clínico compatível associado à evidência eletrocardiográfica de supradesnível de segmento ST > 0,5 mm na derivação V4R. Achados da cineangiocoronariografia e do ecocardiograma ampararam o diagnóstico, mas não foram critérios obrigatórios. Ao todo, 2.710 pacientes consecutivos com IAMCSST foram atendidos na rede municipal no período, com idade mediana de 59 anos, sendo 815 mulheres (30,1%) e 837 com diabetes mellitus (30,9%). IAM com acometimento de parede inferior ocorreu em 1.190 (43,9%), e dentre esses casos, 297 (24,9%) apresentaram supradesnível de segmento ST em V4R. A artéria "culpada" foi a coronária direita em 255 (85,8%), circunflexa em 26 (8,7%), descendente anterior em 1 (0,3%) e não pode ser determinada em 15 (5,0%) casos. O choque cardiogênico por falência de ventrículo direito ocorreu em 71 (23,9%) dos 297 pacientes com supradesnível de V4R, sendo encontradas as seguintes taxas de complicações cardiovasculares nesse subgrupo: bloqueio atrioventricular avançado 30 (42,2%), sangramento maior 10 (14.1%), acidente vascular encefálico isquêmico 3 (4,2%) e mortalidade hospitalar 19 (26,8%).Conclusão: Os resultados reforçam a necessidade de buscar ativamente o acometimento de ventrículo direito nos casos de IAM, através das derivações eletrocardiográficas auxiliares (exemplo V4R), especialmente nos IAM que acometem a parede inferior. Em consonância com dados da Literatura, identificamos elevadas taxas de mortalidade e complicações cardiovasculares.