INTRODUÇÃO: O eletrocardiograma (ECG) constitui uma ferramenta diagnóstica essencial na avaliação cardiovascular, permitindo a identificação de alterações potencialmente associadas a condições neurológicas. Evidências sugerem que padrões específicos no ECG podem estar presentes em crianças com epilepsia, contribuindo para a estratificação de risco cardiovascular e prevenção de complicações clínicas. MÉTODOS: Foi conduzida uma revisão sistemática em três bases de dados, seguindo as diretrizes PRISMA. Dos 252 estudos identificados na busca inicial, 3 atenderam aos critérios de inclusão. Foram excluídos estudos que analisaram alterações eletrocardiográficas em populações adultas ou que foram publicados há mais de 8 anos. As variáveis eletrocardiográficas analisadas incluíram: (1) prolongamento do intervalo PR, (2) encurtamento do intervalo PR, (3) prolongamento do intervalo QTc, (4) alterações do segmento ST (inespecíficas e repolarização precoce), (5) alterações da onda T (inespecíficas e inversão da onda T) e (6) arritmia sinusal. RESULTADOS: Foram incluídas 362 crianças com epilepsia, das quais 199 eram do sexo masculino, com idade média de 6,9 anos. Os tipos de epilepsia observados na população foram: focal em 182 (50,28%) crianças, generalizada em 96 (26,52%) e outros tipos em 84 (23,20%). O prolongamento do intervalo PR foi identificado em 9(2,49%) pacientes, enquanto o intervalo PR curto foi observado em 24(6,63%) crianças. O prolongamento do intervalo QTc esteve presente em 10(2,76%) dos casos. Alterações do segmento ST foram classificadas como inespecíficas em 84(23,20%) crianças e como repolarização precoce em 22(6,08%) casos. As alterações da onda T foram caracterizadas como inespecíficas em 118(32,60%) crianças, enquanto a inversão da onda T foi documentada em 14(3,87%) pacientes. A arritmia sinusal foi observada em 56(15,47%) crianças. CONCLUSÕES: Crianças com epilepsia apresentam alterações eletrocardiográficas, com maior prevalência de variações inespecíficas da onda T e do segmento ST, além de arritmia sinusal. A detecção precoce dessas alterações é essencial para um manejo clínico mais eficaz, permitindo um acompanhamento direcionado e a implementação de estratégias apropriadas para a prevenção de complicações associadas.