Resumo:
Introdução: O prolapso da valva mitral (PVM) e a disjunção anular mitral (DAM) estão associados a um risco aumentado de arritmias ventriculares malignas, porém ainda com definição e o manejo clínico controvesos.
Métodos: A partir do banco de dados de pacientes submetidos a EEF e Ablação por cateter em um hospital terciário em São Paulo, todos os pacientes encaminhados para procedimento devido a arritmias ventriculares entre 2021 e 2024 foram analisados. O diagnóstico de PVM e DAM se baseou em achados do EcoTT, RM cardíaca e revisão de prontuário. O critério de exclusão foi a presença de outro substrato identificado para arritmia ventricular. Resultados: Dos 146 pacientes avaliados, 9 preencheram critério para análise. Dentre estes, 5 apresentavam PVM isolado, 3 PVM associado à DAM e 1 DAM isolada. A média de idade foi de 52 anos, sendo 6 do sexo masculino e 3 do sexo feminino. Os sintomas mais comuns foram palpitações (66,7%); dois pacientes eram assintomáticos e um queixou-se de cansaço. Todos apresentavam FEVE preservada e a insuficiência mitral era leve ou ausente; um havia submetido à troca valvar mitral prévia. As indicações do procedimento foram: extrassístoles ventriculares sintomáticas em dois casos e taquicardia ventricular (TV) não sustentada ou sustentada nos outros seis casos (sendo dois destes suspeitos de TV fascicular). Somente 1 paciente era portador de CDI por recorrência de TV instável, com passado de troca valvar mitral por PVM em 2014. Em 33% pacientes não houve indução de arritmias ventriculares, 22% a localização era no summit do VE, em 2 nos papilares póstero-septal e ínfero-medial, 1 era fascicular e 1 no seio de valsalva. Mais da metade dos pacientes (55,6%) necessitou de um segundo procedimento. Não houve morte súbita no tempo médio de em 18 meses de seguimento.
Conclusão: Esta análise sugere que o PVM/DAM é uma condição rara entre as arritmias ventriculares sintomáticas encaminhadas para ablação. Apesar de apresentarem arritmia clínica, a maioria dos casos não teve arritmia induzida ou apresentava arritmias cuja origem não se correlacionou com o aparato valvar mitral durante o EEF. Estudos com um número maior de pacientes são necessários para conclusões definitivas sobre o tema.