A inflamação desempenha um papel fundamental na aterogênese na doença coronariana. Estudos confirmam o valor prognóstico da medição da atenuação do tecido adiposo pericoronário (PCAT), destacando sua correlação como um biomarcador inflamatório precoce na aterogênese. A colchicina pode contribuir para a redução do Índice de Atenuação de Gordura (FAI) avaliado por meio da angiografia por tomografia computadorizada coronariana (CTA). Este estudo investiga o impacto da colchicina na redução da inflamação coronariana após 12 meses de tratamento.
Estudo piloto, unicêntrico, randomizado, prospectivo e com avaliação cega, conduzido no Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (InCor HCFMUSP). Quarenta pacientes com FAI ≥ -70,1 HU na artéria coronária direita (ACD) e/ou artéria descendente anterior esquerda (ADA) foram randomizados para receber colchicina 0,5 mg/dia por 12 meses ou tratamento padrão isoladamente. O desfecho primário foi a quantificação do FAI em ambos os grupos (colchicina e controle) após 12 meses. Os desfechos secundários incluíram avalição de parâmetros angiotomográficos e clínicos.
Resultados: A idade média foi de 62,5 ± 8,6 anos no grupo Colchicina e 66,2 ± 9,7 anos no grupo Controle. Não foi observada redução significativa do FAI na ACD e ADA após 12 meses. No grupo Colchicina, o FAI inicial médio da ADA de -70,37 ± 7,1 HU evoluiu para -71,48 ± 7,3 HU (p = 0,74), enquanto o grupo Controle apresentou uma variação de -69,13 ± 7,7 HU para -73,45 ± 6,9 HU (p = 0,057). O FAI da ACD variou de -67,69 ± 5,4 HU para -70,0 ± 7,0 HU (p = 0,17) no grupo Colchicina e de -65,48 ± 5,5 HU para -71,2 ± 8,8 HU (p = 0,059) no grupo Controle. Não houve diferença na avaliação do Delta FAI entre os grupos Colchicina e Controle nas artérias analisadas (Δ ADA -0,74 ± 9,5 vs. -5,2 ± 9,7, p = 0,18; Δ ACD -2,4 ± 7,7 vs. -4,7 ± 8,9, p = 0,42; e Δ Cx 0,45 ± 10 vs. -5,2 ± 10,5, p = 0,13). O uso de colchicina foi associado a um maior escore de cálcio da artéria coronária (92,4 ± 160 para 158,4 ± 265, p = 0,025) e a um maior volume total de placa (73,3 ± 126 para 124,4 ± 214, p = 0,037).
Conclusão: A inflamação pericoronária medida pelo FAI não diferiu entre os participantes que receberam colchicina em comparação com o grupo controle após 12 meses de tratamento. O tratamento com colchicina foi associado a um maior escore de cálcio da artéria coronária, considerado uma característica de estabilidade da placa. Como um estudo pioneiro, ele estabelece uma base para futuras pesquisas mais abrangentes investigando terapias anti-inflamatórias alternativas.