Introdução: Cerca de 10% dos pacientes com síndrome coronária crônica (SCC) apresentam angina refratária (AR), uma condição que não responde ao tratamento medicamentoso ou à revascularização miocárdica. A taxa de mortalidade (TM) anual desses pacientes é de aproximadamente 4%, quase o dobro daquela observada em outros estudos com SCC multiarterial complexa, mas passível de revascularização. No entanto, faltam estudos multicêntricos que avaliem a mortalidade de longo prazo em AR e que identifiquem os principais preditores de risco. A troponina T ultrassensível (TnT-us) é um biomarcador que já demonstrou ser útil na avaliação do prognóstico de pacientes com SCC e AR, em períodos de seguimento mais curtos.
Métodos: Incluímos prospectivamente 104 pacientes encaminhados para um ambulatório especializado em AR, que forneceram consentimento para coletas de amostras de plasma no início do estudo (70,2% homens, idade de 62,8±9,8 anos; fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) de 52,0±13,4%) entre outubro de 2008 e setembro de 2013. O desfecho primário foi o óbito por todas as causas. A informação a respeito do desfecho primário foi obtida através dos prontuários médicos e contatos telefônicos até fevereiro de 2025. As curvas de sobrevida foram construídas pelo método de Kaplan-Meier e as variáveis associadas à mortalidade foram analisadas por meio de regressão proporcional de Cox univariada, seguidas de um modelo multivariado ajustado.
Resultados: Durante um seguimento mediano de 11 anos, ocorreram 52 óbitos, o que resultou em uma TM acumulada de 50% e uma taxa anual de 4,5%. Os preditores de óbito após análise univariada e multivariada foram: idade, FEVE e níveis de TnT-us (Tabela). Outros fatores como diabetes mellitus, doença coronária mais extensa, angina limitante, e isquemia não foram preditores de mortalidade. Notavelmente, entre os pacientes com níveis séricos indetectáveis de TnT-us, nenhuma morte ocorreu durante mais de 8 anos de acompanhamento. Por outro lado, pacientes com TnT-us acima do percentil 99 apresentaram uma curva de sobrevida que indicava maior mortalidade desde os primeiros meses de observação, uma tendência que se manteve ao longo de mais de 10 anos de seguimento (Figura).
Conclusão: Pacientes com AR apresentam uma TM significativamente superior em comparação a outros pacientes com SCC que são candidatos à revascularização. A disfunção ventricular esquerda e os níveis elevados de TnT-us são os principais preditores de óbito. Níveis reduzidos deste biomarcador estão fortemente associados a um prognóstico favorável a longo prazo.