Introdução: Os dados atuais sustentam que até 42% dos contaminados pelo SARS-Cov-2 podem apresentar sintomas dois anos depois. Avanços clínicos e experimentais recentes apoiam a noção de que a interação do vírus, mediada por proteínas Spike, com receptores da enzima conversora de angiotensina (ACE2) exerce um papel fundamental no desenvolvimento de alterações cardíacas, vasculares e autonômicas, incluindo o barorreflexo, a frequência cardíaca (FC) e a pressão arterial sistêmica (PA). Além disso, algumas investigações têm constatado que há interação entre PS flutuantes livres produzidas após a vacinação e receptores da ECA2, agravando, assim, as alterações. A hipótese é que alguns pacientes contaminados pelo SARS-Cov-2 possam apresentar redução no trabalho cardíaco (duplo produto - DP) durante o teste de esforço físico aeróbico progressivo. Portanto, o objetivo é investigar o déficit do DP (trabalho cardíaco) de pacientes na fase crônica pós-covid-19, submetidos ao TE.
Metodologia: CEP: 6.556.816/2023. Foram avaliados homens e mulheres entre 50 e 60 anos de idade, dois anos após a infecção pelo SARS-Cov-2. A FC e a PA foram medidas na condição de repouso sentada e durante o Teste Ergométrico (TE - protocolo de Bruce Modificado). Foram calculados a FC máxima prevista e o DP pico do esforço e o máximo previsto para a idade, bem como, a diferença percentual entre o previsto e obtido para estas duas variáveis. Para comparar os dados obtidos e previstos foi aplicado do teste de Mann Whitney (p<0,05).
Resultados: Amostra= 4 homens e 7 mulheres, com idade = 54,84+3,46 anos. Dados de repouso: FC = 74,55+10,92 bpm; PAS = 131,27+18,74 mmHg. Dados obtidos no pico do TE: FC = 135,36+9,94 bpm; PAS = 164,09+49,74 mmHg; DP = 22.511+8.085 bpm.mmHg. Dados máximos previstos: FC = 161,82+7,96 bpm; DP = 33.220,55+191,28 bpm.mmHg. Déficits: FC = 18,03+6,02%; DP = 32,22+24,44%. Houve diferença estatística significativa entre os seguintes dados previstos e obtidos: FC (p=0,0002) e DP (p=0,01).
Conclusão: dois anos após a contaminação pelo SARS-Cov-2 os pacientes apresentam déficit importante do trabalho cardíaco. Entretanto, os fatores causais não podem ser explicados a partir do protocolo utilizado.