Introdução e Fundamentos:
A eletrocardiografia pediátrica é uma ferramenta relevante no rastreio e acompanhamento de cardiopatias congênitas. Durante a jornada até a vida adulta, o eixo elétrico de QRS se inicia à direita, posicionando-se ainda nas primeiras semanas nos dois quadrantes inferiores; a onda S nasce ampla em V6 e, posteriormente, diminui, um marco do padrão “infantil”; e, após os 3 anos de idade, a onda R, inicialmente ampla em V1, também sofre redução, um marco do padrão “adulto”.
Métodos:
Realizamos uma análise post-hoc do estudo caso-controle CHILDHEART envolvendo pacientes de 0 a 14 anos internados cem centro terciário em 2023 e controles (crianças e adolescentes submetidos a ECG em unidades de tele-ECG). Analisamos ECGs de 349 pacientes pediátricos internados em enfermarias congênitas– 152 com doença atrial esquerda (DAE), 213 com doença ventricular esquerda (DVE), 219 com doença atrial direita (DAD) e 246 com doença ventricular direita (DVD) – e comparamos com 1288 crianças saudáveis (grupo controle). O objetivo é verificar a acurácia destes ditos marcos eletrocardiográficos de idade como preditores de presença ou ausência de patologia.
Resultados:
Em crianças entre 1 mês e 3 anos, o normal é que a onda R > S em V6 e que o eixo elétrico de QRS esteja nos quadrantes inferiores. Não atingir estes marcos durante esta faixa etária apresentou sensibilidade de 52,10% (IC 95%: 44,56–59,54) e especificidade de 93,35% (IC 95%: 90,71–95,27) para a presença de doença congênita de qualquer câmara cardíaca. Isso resulta em uma razão de verossimilhança positiva (RV+) de 7,83 (IC 95%: 5,41–11,34) e uma RV- de 0,51 (IC 95%: 0,44–0,60).Em crianças com mais de 3 anos, o esperado é que, além dos achados da faixa “infantil”, a onda R em V1 se torne menor que a onda S. Não atingir estes marcos apresentou uma sensibilidade de 47,78% (IC 95%: 40,60–55,04) e uma especificidade de 89,54% (IC 95%: 87,25–91,47) para a presença de qualquer patologia congênita de câmara cardíaca. Isso resulta em umaRV+: 4,57 (IC 95%: 3,55–5,88) e RV-: 0,58 (IC 95%: 0,51–0,67).
Conclusões:
A análise rápida dos chamados “marcos de idade” em eletrocardiografia pediátricademonstra uma razão de verossimilhança negativa que, embora moderada, contribui para a redução da probabilidade de cardiopatias congênitas, corroborando a utilidade dessa abordagem como ferramenta auxiliar no rastreio pediátrico.