Introdução: A tempestade elétrica (TE) é uma condição perigosa e de difícil manejo, que requer rápido diagnóstico e intervenção. As terapias mais utilizadas podem não conseguir cessar completamente a recorrência de taquicardia ventricular (TV). Nesse cenário, a simpatectomia vem se mostrando uma opção viável, segura e com efeitos colaterais toleráveis.
Relato de caso: L.B.O., 51 anos, sexo feminino, portadora de miocardiopatia dilatada com fração de ejeção reduzida e cardiodesfibrilador implantável (CDI) para profilaxia secundária, deu entrada no pronto-socorro em julho de 2024 devido TV sustentada monomórfica. Mantinha frequência cardíaca de 200 bpm e houve necessidade de cardioversão elétrica (CVE).
Após estabilização, foi optado por realizar estudo eletrofisiológico (EEF), que identificou como deflagradora uma zona cicatricial na região póstero-médio-septal. Realizada ablação com desconexão dos potenciais fragmentados. No quarto dia após EEF, houve recorrência de TV, com quatro episódios em um intervalo de 12h, todos revertidos com choques do CDI. Foram associados amiodarona, lidocaína e betabloqueador e, apesar de antiarrítmicos em dose otimizada, surgiram novos episódios de TV. A paciente foi inscrita na fila de transplante cardíaco (TxC) devido à arritmia intratável. Discutido em Heart Team, indicamos simpatectomia para tratamento da arritmia. O procedimento foi realizado por videotoracoscopia, com a secção ganglionar bilateralmente. Não houve intercorrências e paciente não recorreu arritmia, sendo retirada da fila de TxC após algumas semanas. Está há seis meses sem nova arritmia ou necessidade de internação.
Conclusões: TE ainda é uma condição de difícil manejo, com alta mortalidade a curto prazo. Em situações de refratariedade, apesar da terapia medicamentosa, CDI e ablação por cateter, a simpatectomia por videotoracoscopia se torna uma alternativa de tratamento adicional que pode ajudar a evitar o TxC. Ela se baseia na denervação dos gânglios estrelado e torácico bilateralmente com objetivo de reduzir a excitação ao cardiomiócito. O procedimento possui baixas taxas de complicações, rápida recuperação e com efeitos colaterais geralmente toleráveis, sendo os principais sudorese compensatória e sudorese gustativa. Uma complicação mais rara e grave é a síndrome de Horner, que pode ter sua incidência reduzida de acordo com a técnica e material utilizado.
Apesar dos bons resultados, ainda são escassos os dados na literatura e mais estudos serão necessários para consolidação de tal terapia.