As anomalias de artérias coronárias são um conjunto de alterações congênitas que afetam 1,3% da população.A artéria coronária única (ACU) é uma de suas variantes em que somente uma artéria emerge da aorta através de óstio único e se torna o vaso responsável por irrigar todo o coração. Este relato tem o objetivo de apresentar o caso de uma paciente com ACU identificada em investigação de dor torácica.
Descrição do caso
R.P.C., feminina, 51 anos, hipertensa, ex-tabagista, procurou atendimento por dor interescapular de longa data com irradiação para mandíbula direita, de forte intensidade, em repouso, durando 30 minutos, sem piora ao estresse físico ou emocional, sem melhora com nitrato, com aumento de frequência no último ano. Realizada investigação diagnóstica com angiotomografia de coronárias, cujos achados evidenciaram anomalia de coronária caracterizada por ausência de coronária direita, sendo a irrigação miocárdica realizada por coronária esquerda com grande ramo marginal de artéria circunflexa irrigando o ventrículo direito, com ausência de estenoses e escore de cálcio zero. Realizada prova isquêmica de resultado negativo. Assim, descartado doença coronariana como causa das queixas, orientado medidas comportamentais e investigação de dor torácica de origem não cardíaca no seguimento.
Conclusões
Sabe-se que a ACU corresponde na grande maioria das vezes a um achado incidental de caráter benigno e sem significado clínico. Contudo, em 15% das vezes pode vir associada a outras malformações ou apresentar isquemia como consequência direta da anatomia, independentemente de possuir aterosclerose associada.2,4 Assim, é fundamental reconhecer a ACU e identificar pacientes que necessitam de investigação complementar, para evitar complicações.
Existem menos de 50 casos relatados em literatura de ACU. No descrito, observa-se uma paciente que durante investigação de dor torácica evidenciou a anomalia descrita. Apesar da imagem não ter sugerido doença aterosclerótica, prosseguiu-se com prova isquêmica não invasiva no intuito de descartar isquemia associada ao trajeto não usual com base nas informações disponíveis até o momento quanto a condição.
É fundamental estar ciente da prevalência e significado dessa anomalia que apesar de rara pode se manifestar de forma heterogênea e em uma parte dos casos evoluir de maneira desfavorável.
