Introdução: A classe funcional (CF) da New York Heart Association (NYHA) é amplamente utilizada para classificar a gravidade dos sintomas em pacientes com insuficiência cardíaca, orientando condutas clínicas. No entanto, ao avaliar sua relação com a ocorrência de síncope em pacientes com dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI), surge a possibilidade de vieses decorrentes do julgamento clínico. Fatores como idade e polimedicação podem atuar como confundidores, impactando a interpretação da CF como um preditor de eventos sincopais. Este estudo investiga essa associação, questionando se a CF pode ser utilizada isoladamente como um indicador confiável para o risco de síncope.
Objetivo: Avaliar a relação entre a classe funcional NYHA e a ocorrência de síncope em pacientes com DCEI, ajustando para idade e polimedicação.
Metodologia: Trata-se de um estudo transversal e observacional, com 90 pacientes portadores de DCEI acompanhados ambulatorialmente. Inicialmente, foi analisada a associação linear entre a classe funcional NYHA e a ocorrência de síncope. Posteriormente, aplicou-se um modelo de regressão logística, ajustado para idade e polimedicação, a fim de identificar preditores significativos de síncope.
Resultados: A análise linear demonstrou uma associação significativa entre a classe funcional NYHA e a ocorrência de síncope (p < 0,0011), sugerindo que pacientes com pior CF apresentam maior risco. A regressão logística ajustada confirmou que a CF NYHA é um preditor independente de síncope. Comparando os grupos NYHA 2 e 3 isoladamente contra NYHA 1, observou-se um risco aumentado de síncope, inclusive com diferença estatisticamente significativa entre NYHA 2 e 3 (p <0,001). Inclusive ao agrupar os pacientes NYHA 2 e 3 e compará-los com NYHA 1, a associação se tornou ainda mais significativa (p < 0,0001). A idade, a polimedicação e o uso de diuréticos não foram identificados como preditores significativos no modelo ajustado.
Conclusão:A classe funcional NYHA demonstrou uma associação significativa e linear com o risco de síncope em pacientes com DCEI. Mesmo após o ajuste para idade e polimedicação, permaneceu como um preditor independente de síncope, reforçando sua relevância na estratificação de risco desses pacientes. Esses achados destacam a necessidade de uma avaliação clínica criteriosa para evitar vieses na tomada de decisão.