Introdução As diretrizes internacionais contraindicam o uso de antiarrítmicos da classe IC em pacientes com doença cardíaca estrutural devido ao potencial pró-arrítmico e ao aumento do risco de mortalidade observado em estudos anteriores com flecainida, encainida e moricizina, especialmente em indivíduos com infarto do miocárdio recente. No entanto, a aplicabilidade desses achados à propafenona permanece incerta, particularmente em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) e doença arterial coronariana (DAC). O objetivo deste estudo foi avaliar a segurança da propafenona em comparação com a amiodarona nesse perfil de pacientes, analisando a incidência de eventos cardiovasculares adversos e a sobrevida.
Métodos Foi conduzido um estudo de coorte retrospectivo utilizando o banco de dados TriNetX, sendo selecionados 892.121 pacientes. Foram incluídos 21.931 pacientes em uso de amiodarona e 21.931 pacientes em uso de propafenona, pareados por escore de propensão. O desfecho primário foi a incidência de eventos cardiovasculares adversos, analisada por meio de curvas de Kaplan-Meier, teste de log-rank e estimativas de risco expressas como razão de risco (hazard ratio, HR) e odds ratio (OR).
Resultados A incidência de eventos cardiovasculares adversos foi significativamente maior no grupo tratado com amiodarona (25,749%) em comparação ao grupo propafenona (11,235%), resultando em uma diferença de risco absoluta de 14,514% (IC 95%: 13,8% a 15,228%, p <0,0001). O hazard ratio foi de 2,292 (IC 95%: 2,194–2,394) e o odds ratio de 2,74 (IC 95%: 2,602–2,885), indicando um risco relativo significativamente maior no grupo amiodarona.A análise de Kaplan-Meier demonstrou uma sobrevida significativamente maior no grupo propafenona, com probabilidades de sobrevida ao final do período de acompanhamento de 81,79% versus 60,497% no grupo amiodarona. O teste de log-rank confirmou a diferença estatisticamente significativa entre os grupos (χ² = 2.134,355, p <0,0001).
Conclusão Os resultados deste estudo indicam que o uso de amiodarona em pacientes com IC e DAC está associado a um risco significativamente maior de eventos cardiovasculares adversos e a uma menor sobrevida em comparação com a propafenona.