Introdução: A doença de Chagas (DC) em sua forma crônica acomete 4,6 milhões de pessoas no Brasil.A fibrilação atrial (FA) é a arritmia supraventricular sustentada mais frequente neste grupo, chegando a 34% em pacientes com dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI). Contudo, as características dessa população e o impacto da FA são pouco explorados. Objetivo: Avaliar a prevalência, impacto e características (clínicas, eletrofisiológicas e imagéticas) da FA em pacientes com DC e DCEI. Métodos: pacientes de ambulatório de eletrofisiologia de serviço terciário, com DC e DCEI, separados em dois grupos de acordo com a presença de FA. Avaliadas características clínicas (questionário próprio), qualidade de vida (questionário SF-36) e telemetria dos DCEI. Análise estatística adotando p ≤ 0,05, com uso de modelos lineares generalizados (dados categóricos ou de contagem), mistos (dados contínuos) e gerais (dados contínuos independentes).Resultados e discussão: De 325 pacientes com DCEI, recrutados 54 com DC dos quais 23 apresentavam com FA (42,6%), predominando a forma paroxística (70%). O período médio de acompanhamento foi de 9 anos. O grupo com FA foi significativamente mais idoso (72 vs 64 anos; p=006), mas não houve diferença em relação a comorbidades, uso de betabloqueadores, antiarrítmicos, parâmetros ecocardiográficos, tipo de DCEI, taxa de marcapassamento. Os grupos foram semelhantes quanto à presença de dispneia, síncope, palpitações, tonturas e classe funcional. Apesar de mais internações por paciente (0,3 vs 0,23), a FA não impactou no número de hospitalizações por causas cardiovasculares. Na análise da qualidade de vida, o grupo com FA apresentou melhores pontuações, principalmente em aspectos físicos (50 vs 0; p= 0,044) e emocionais (100 vs 0; p= 0,02). O grupo com FA registrou pelo DCEI mais eventos atriais de forma geral (9,96 vs 1,19; p<0,001), predominando gravações de até 1 hora (5,09 vs 0,71; p=0,004). A FA não levou a maior número de terapias inapropriadas de forma significativa ou impactou do período sem terapias elétricas. Conclusão: Houve elevada prevalência de FA no grupo com DC, sendo seu diagnóstico favorecido pelo registro contínuo do DCEI. A FA foi paradoxalmente associada à melhor avaliação subjetiva do paciente da capacidade física e emocional, mas não impactou em pior função ventricular, internações, terapias inapropriadas ou sintomas cardiovasculares nesta população.