As doenças cardiovasculares permanecem como a principal causa de mortalidade global, consolidando-se como um dos maiores desafios epidemiológicos. A parada cardiorrespiratória (PCR), evento de extrema letalidade, possui um prognóstico condicionado à celeridade e precisão na intervenção inicial. Assim, a baixa capacitação da população leiga perpetua um hiato assistencial crítico, resultando em desfechos clínicos adversos. Diante desse panorama, estratégias educacionais inovadoras, como a gamificação, emergem como ferramentas disruptivas na pedagogia médica, fomentando maior assimilação cognitiva e engajamento no treinamento em suporte básico de vida. O presente estudo teve por escopo validar a eficácia do Hands 2 Help, um serious game baseado nas diretrizes da American Heart Association, como ferramenta de capacitação em RCP. Para tanto, conduziu-se um estudo observacional, comparativo e prospectivo, envolvendo discentes do curso de Pedagogia de uma universidade do interior do Rio de Janeiro, alocados aleatoriamente em dois grupos: um treinado pelo Hands 2 Help e outro submetido a videoaulas instrucionais. O conhecimento sobre reconhecimento da PCR e realização da RCP foi avaliado em três momentos: pré-treinamento, pós-imediato e após seis meses, permitindo mensurar a retenção cognitiva e a efetividade dos métodos. A análise estatística evidenciou um incremento significativo no desempenho de ambos os grupos, com escores médios de 11,7 ± 1,9 no Hands 2 Help e 10,6 ± 1,8 no grupo treinado por videoaulas (Δ = 1,1 pontos; IC 95%: 0,2 – 2,0; p = 0,08). A distribuição por percentil demonstrou que 72,4% dos participantes do Hands 2 Help atingiram escores ≥10, contra 63,1% no grupo das videoaulas. Na análise longitudinal, observou-se retenção cognitiva sustentada, com médias de 10,6 ± 3,0 no Hands 2 Help versus 10,4 ± 2,6 no grupo controle (p = 0,34), e taxa de manutenção do desempenho ≥75% em 83,5% dos participantes treinados pelo aplicativo, contra 78,2% no grupo das videoaulas. Em conclusão, o Hands 2 Help consolida-se como uma alternativa viável e equiparável às metodologias convencionais de ensino em RCP, conjugando interatividade e acessibilidade. O emprego de serious games no ensino de suporte básico de vida representa uma inflexão paradigmática na capacitação emergencial, abrindo precedentes para estratégias educacionais inovadoras. Em um cenário no qual cada segundo define desfechos vitais, expandir o acesso a treinamentos pode mitigar a inércia assistencial e reduzir a morbimortalidade evitável associada a eventos cardiovasculares.
