Introdução
O infarto do miocárdio sem obstrução coronariana significativa (MINOCA) representa um desafio diagnóstico e terapêutico atualmente, sendo cada vez mais alvo de estudo. A literatura atual sugere que há diferenças na distribuição das causas do MINOCA entre os gêneros, influenciando a escolha terapêutica e os desfechos clínicos. Este estudo visa analisar a influência do gênero nas diferentes etiologias do MINOCA em uma coorte de 199 pacientes atendidos em um hospital terciário de cardiologia.
Métodos
Foram analisados retrospectivamente dados de 199 pacientes diagnosticados com MINOCA. A associação entre o gênero e as diferentes causas do MINOCA foi avaliada por meio do teste do qui-quadrado, com significância estatística estabelecida para p < 0,05. O coeficiente V de Cramer foi utilizado para medir a força da associação.
Resultados
A análise revelou associações estatisticamente significativas entre o gênero e algumas das principais causas de MINOCA. A DAC < 50% foi mais prevalente em homens (p < 0,001, V de Cramer = 0,655), sugerindo que a aterosclerose leve pode ser um fator mais relevante no sexo masculino. A Ponte Miocárdica também apresentou maior prevalência em homens (p = 0,003, V de Cramer = 0,412), possivelmente devido a diferenças anatômicas e fisiológicas. Em contrapartida, a presença de Trombo/Embolia foi mais comum em mulheres (p < 0,001, V de Cramer = 0,632), sugerindo uma predisposição maior ao estado protrombótico no sexo feminino. Da mesma forma, a Dissecção foi significativamente mais frequente em mulheres (p = 0,002, V de Cramer = 0,478), o que pode estar relacionado a fatores hormonais e estruturais da parede vascular.
Discussão
Os resultados deste estudo reforçam que o gênero exerce influência sobre as diferentes causas de MINOCA. A maior prevalência de DAC < 50% e Ponte Miocárdica nos homens pode indicar uma predisposição anatômica e hemodinâmica a esses quadros. Em contrapartida, mulheres apresentaram maior incidência de Trombo/Embolia e Dissecção, reforçando a importância da avaliação de estados pró-trombóticos e fatores hormonais na população feminina.
Conclusão
A distribuição das causas do MINOCA difere significativamente entre homens e mulheres, o que sugere a necessidade de estratégias diagnósticas e terapêuticas individualizadas. A identificação dessas diferenças pode contribuir para um melhor manejo clínico e prognóstico dos pacientes com MINOCA. Estudos futuros são necessários para aprofundar a compreensão dos mecanismos fisiopatológicos que explicam essas diferenças de gênero.
