Introdução: O infarto do miocárdio sem lesões obstrutivas (MINOCA) é uma condição cada vez mais relevante devido sua importância prognóstica e os avanços nos métodos diagnósticos. Suas causas são diversas e o prognóstico desses pacientes não é benigno com risco aumentado de morte e novos eventos cardiovasculares. Este estudo analisa variáveis clínicas e desfechos de pacientes diagnosticados com MINOCA em um centro terciário de cardiologia.
Métodos: Nesta coorte de centro único, todos os pacientes que preencheram os critérios diagnósticos para MINOCA com (1) IAM (2) ausência de estenose coronária ≥ 50% na artéria relacionada ao infarto e (3) nenhuma outra causa específica clinicamente evidente entre março de 2020 e fevereiro de 2025 foram incluídos com um acompanhamento médio de 33 (8-52) meses.
Resultados:Dos 199 pacientes, 51,8% eram mulheres com média de idade em 50,8 anos de idade (42,0-59,0). 22,2% tinham diabetes, 46,5% dislipidemia, 60,6% hipertensão. A apresentação clínica predominante foi IAMSSST (55,6%). 40,9% dos pacientes não tiveram uma etiologia identificada. O mecanismo fisiopatológico mais prevalente foi ruptura da placa < 50% (15,7%), seguido de tromboembolismo (13,1%) e dissecção espontânea de coronária (12,1%). Apenas 2,5% realizaram tomografia de coerência óptica (OCT) ou ultrassom intravascular (IVUS). Nenhum teste provocativo foi realizado. 42.1% realizaram ressonância magnética cardíaca (RMC), com mediana de tempo para realização de 180,0 (22- 722,5) dias após o evento. Em relação à medicação prescrita na alta hospitalar, (77.8% tiveram betabloqueador e IECA/BRA prescritos, 33% iniciaram anticoagulação e 42,6% receberam dupla antiagregação plaquetária (DAP). Apenas uma revascularização foi necessária, em um caso grave de dissecção de coronária (0,5% total - 4% no subgrupo de dissecção). Um dos pacientes necessitou de transplante cardíaco durante o seguimento, fato não relatado anteriormente na literatura. A incidência do desfecho composto (morte CV, novo IAM, AVC e internação CV) em 36 meses foi de 28%, as custas principalmente de nova hospitalização cardiovascular (16.8%). A incidência de novo IAM foi de 6,5% e de AVC 4,9%. Ocorreram 5 óbitos (2.7%), dos quais 4 foram por choque cardiogênico.
Conclusão: MINOCA é uma síndrome complexa que exige uma abordagem diagnóstica diferenciada e terapêutica personalizada. A análise descritiva deste estudo demonstra a prevalência de fatores de risco cardiovasculares clássicos, a diversidade de etiologias e a importância do seguimento clínico adequado para prevenir complicações e recorrências.