Introdução
As comunicações interatriais (CIA) representam um dos defeitos cardíacos congênitos mais prevalentes, sendo a variante do tipo seio venoso superior uma forma menos frequente, correspondendo a cerca de 5-10% dos casos. Essa condição pode se associar à drenagem venosa pulmonar anômala (DVPA), levando a um shunt esquerda-direita significativo e consequente sobrecarga volumétrica das cavidades direitas. O diagnóstico pode ser tardio, muitas vezes ocorrendo apenas na idade adulta, quando o paciente passa a apresentar sinais clínicos de insuficiência cardíaca e repercussão hemodinâmica. Este relato descreve um caso de CIA tipo seio venoso superior com DVPA associada, diagnosticado em um paciente adulto sintomático.
Relato do Caso
Paciente masculino, 52 anos, ex-tabagista, sem comorbidades prévias conhecidas, encaminhado para avaliação em hospital terciário devido a quadro de angina aos esforços, dispneia progressiva aos médios esforços, ortopneia e dispneia paroxística noturna. Ao exame físico, apresentava bulhas normofonéticas, com hiperfonese de segunda bulha (B2) e sopro sistólico ejetivo audível em foco pulmonar, ECG revelou ritmo sinusal, desvio do eixo elétrico para a direita e bloqueio de ramo direito.
A ecocardiografia transesofágica evidenciou a presença de CIA tipo seio venoso superior, medindo 23 mm, com fluxo anômalo de shunt esquerda-direita. Adicionalmente, detectou-se drenagem anômala das veias pulmonares superior e inferior direitas para a veia cava superior, com uma boca da desembocadura ampla, medindo cerca de 36mm, corroborando o diagnóstico de uma CIA associada à DVPA. A angiotomografia de coronárias confirmou CIA tipo seio venoso superior medindo aproximadamente 20 mm, reforçando o diagnóstico estrutural.
Discussão
A CIA tipo seio venoso superior pode permanecer assintomática até a quarta ou quinta década, quando a sobrecarga das câmaras direitas se torna significativa. Shunts persistentes levam à hipertrofia e dilatação das câmaras direitas, aumentando o risco de hipertensão pulmonar, arritmias e insuficiência cardíaca direita.
Neste caso, a dilatação cardíaca indicou repercussão hemodinâmica relevante, impossibilitando o fechamento transcateter. A correção cirúrgica foi a escolha terapêutica adequada.
Conclusão
Este relato destaca a importância da suspeição clínica e dos exames de imagem no diagnóstico tardio de cardiopatias congênitas. A avaliação precisa da repercussão funcional e estrutural da CIA tipo seio venoso superior associada à DVPA é essencial para definir a melhor abordagem terapêutica individualizada.