INTRODUÇÃO: Tumores cardíacos malignos primários são extremamente raros e desses apenas 1 a 2% são linfoma não-Hodgkin. A prevalência é maior em homens de meia idade e em imunossuprimidos. O átrio direito (AD) é a câmara cardíaca mais acometida e a clínica mais frequente envolve derrame pericárdico, insuficiência cardíaca e bloqueio atrioventricular.
CASO CLÍNICO: Homem, 66 anos, com espondilite anquilosante em uso de infliximabe é admitido por quadro súbito de mal-estar, dispneia e bloqueio atrioventricular 2º grau Mobitz 2 (BAV MII) ao eletrocardiograma (ECG). Após passar marcapasso (MP) transvenoso e enquanto aguardava o implante de MP definitivo, foi visto no ecocardiograma (ECO), uma tumoração de 3.5 cm x 2.5 cm em AD e aventadas hipóteses de trombo ou mixoma atrial. Hemoculturas negativas. Iniciada anticoagulação plena, porém paciente evoluiu com insuficiência cardíaca direita e choque obstrutivo, sendo indicada cirurgia. Durante procedimento, foi ressecada massa tumoral acometendo AD e ventrículo direito, removido o trombo em AD de 6x8cm e realizado a reconstrução de AD, entretanto paciente faleceu em sala. Ao anatomopatológico, linfoma não-Hodgkin difuso de grandes células - imunofenótipo B.
DISCUSSÃO: O linfoma cardíaco primário é um linfoma não-Hodgkin de células B, agressivo e com prognóstico reservado. O Infliximabe pode predispor ao desenvolvimento de linfoma de células B, pela imunossupressão. O diagnóstico diferencial abrange trombo, endocardite e mixoma atrial, os quais foram considerados no caso. O ECO auxiliou no diagnóstico e a ressonância nuclear magnética, importante no diagnóstico diferencial, foi impossibilitada pela dependência do MP transvenoso. O BAV MII pode ter sido resultado da infiltração neoplásica do sistema de condução e foi a intercorrência que levou o paciente ao hospital e permitiu o diagnóstico clínico. O aumento do trombo associado ao tumor é umas das hipóteses que levou ao choque circulatório. O tratamento de escolha é quimioterapia, pois a cirurgia, embora necessária para aliviar obstruções hemodinâmicas agudas, não tem impacto na sobrevida a longo prazo.
CONCLUSÃO: Destacamos a importância de considerarmos tumores cardíacos em pacientes com massas cardíacas e evolução atípica, sobretudo homens de meia idade e imunossuprimidos. A suspeição precoce e o início da quimioterapia são essenciais para a melhora do desfecho. Há uma carência de estudos e relatos como esse, fundamentais para a comunidade cardiológica, ajudando na identificação precoce e no refinamento das estratégias diagnósticas e terapêuticas.