Introdução
A doença reumática ainda é um importante problema de saúde pública no Brasil, especialmente em populações de baixa renda, sendo uma das principais causas de estenose mitral (EM). Segundo dados do Ministério da Saúde, a febre reumática afeta principalmente crianças e adolescentes, levando a sequelas valvares que se manifestam décadas depois. A Síndrome de Lutembacher (SL), caracterizada pela associação entre estenose mitral reumática e comunicação interatrial (CIA), é rara, com uma incidência estimada abaixo de 1 caso por milhão de habitantes. Essa condição agrava a sobrecarga de volume do átrio direito e pode levar a hipertensão pulmonar severa, aumentando o risco de insuficiência cardíaca direita.
Relato de Caso
Paciente do sexo masculino, 61 anos, sedentário e tabagista, compareceu para avaliação de rotina. Durante teste ergométrico, apresentou capacidade aeróbica muito reduzida (VO₂ máx.: 22,6 ml/kg/min). Foi solicitado ecocardiograma transtorácico, que evidenciou:
•Estenose mitral grave (área valvar: 1,1 cm², gradiente médio: 17 mmHg, escore de Blockton: 8);
•Comunicação interatrial ostium secundum (CIA-OS) de 7 mm;
•Dilatação biatrial e do ventrículo direito;
•Hipertensão pulmonar estimada em 62 mmHg.
Diante dos achados, foi realizado diagnóstico de Síndrome de Lutembacher, com necessidade de definição da estratégia terapêutica.
Discussão
O tratamento da SL depende da gravidade da estenose mitral, do tamanho da CIA e da presença de hipertensão pulmonar significativa. Em casos selecionados, a valvoplastia mitral percutânea (VMP) pode ser uma opção, desde que a morfologia valvar seja favorável. O escore de Blockton de 8 pontos não indica fibrose ou calcificação importantes, o que possibilita a VMP. Assim, o fechamento percutâneo da CIA pode ser considerado após o tratamento da estenose mitral para evitar sobrecarga de volume do VD. A decisão final deve ser individualizada, levando em conta idade, sintomas e risco cirúrgico.
Conclusão
A Síndrome de Lutembacher é rara, e sua abordagem requer avaliação detalhada para definir a melhor estratégia terapêutica. O presente caso reforça a importância da investigação ecocardiográfica na avaliação de pacientes com limitação funcional significativa e fatores de risco cardiovasculares.
Palavras-chave: Síndrome de Lutembacher, Estenose mitral reumática, Comunicação interatrial, Valvoplastia mitral percutânea, Hipertensão pulmonar.