Introdução
A insuficiência cardíaca (IC) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade hospitalar, com altas taxas de reinternação. Embora sinais clínicos de congestão sejam utilizados para avaliação, a congestão subclínica – aquela não detectável pelo exame físico, mas identificada por Point-of-Care Ultrasound (POCUS) – pode representar um marcador de risco de reinternação. Este estudo investigou a relação entre congestão subclínica na alta hospitalar e as taxas de reinternação em 60 dias.
Métodos
Estudo prospectivo com 75 pacientes maiores de 18 anos internados por IC descompensada em um hospital. A congestão subclínica foi avaliada por POCUS, analisando diâmetro e variabilidade da veia cava inferior, além da presença de Linhas B para congestão pulmonar. Dados clínicos como idade, comorbidades, fração de ejeção e sinais clínicos de congestão foram registrados. O desfecho primário foi a reinternação em até 60 dias, analisado por correlação de Pearson e regressão logística.
Resultados
A amostra incluiu 75 pacientes, sendo 57,3% homens, com média de idade de 68,32 ± 1,39 anos. Destes, 24% (n=18) foram reinternados em 60 dias. As etiologias da IC foram 36% isquêmica, 13,3% valvar e 32% idiopática. Quanto à função cardíaca, 56% tinham fração de ejeção reduzida, 8% levemente reduzida e 21,3% preservada. As comorbidades mais comuns foram hipertensão (84%), doença arterial coronariana (49,3%), dislipidemia (48%) e tabagismo (48%). Durante a alta, 9,3% apresentaram ingurgitamento jugular, 25,3% edema de membros inferiores, 17,3% murmúrio vesicular reduzido e 4% derrame pleural, enquanto 52% apresentaram Linhas B ao POCUS. Não houve diferença significativa no diâmetro da veia cava entre reinternados e não reinternados (p=0,684), mas a variabilidade da veia cava foi menor nos reinternados (26,8%) em comparação aos não reinternados (35,25%) (p=0,131), sem correlação com reinternação na regressão logística. Nenhuma variável clínica mostrou associação significativa com reinternação (p>0,05).
Conclusão
Embora a congestão subclínica seja comum em pacientes com IC descompensada, sua presença na alta não esteve significativamente associada ao risco de reinternação em 60 dias. A avaliação por POCUS continua sendo uma ferramenta útil para o manejo intra-hospitalar, mas, devido ao pequeno tamanho da amostra, não foi possível estabelecer sua validade como preditor de desfechos. Estudos adicionais com maior poder estatístico são necessários para esclarecer essa relação.