Introdução: O Hiperaldosteronismo primário (HP) é uma causa frequente de hipertensão arterial (HA) secundária, cujo rastreamento se fundamenta na dosagem da renina e da aldosterona plasmáticas. A hipocalemia pode estar presente em até 30% dos casos e é considerada um sinal de alerta para o HP. No entanto, quando não corrigida, pode interferir na acurácia dos testes de rastreamento.
Relato de caso: Relatamos o caso de um paciente de 52 anos, sexo masculino, que foi recebido em serviço ambulatorial de referência por quadro de HA resistente desde os 45 anos de idade. O paciente relatava procura frequente de atendimento de urgência por fraqueza muscular associada a hipocalemia, com necessidade intermitente de suplementação de potássio. Uma primeira avaliação laboratorial de rastreamento de HP revelou aldosterona (A): 19,9 ng/dL e atividade plasmática de renina (APR): 2,4 ng/mL/h, resultando em uma relação A/APR: 8,29 com potássio plasmático: 2,5 mEq/L. Dado o rastreamento negativo na presença de hipocalemia, optou-se por reposição de potássio, ajuste de esquema anti-hipertensivo (suspenso diurético tiazídico) e novo rastreamento após correção do distúrbio eletrolítico. No retorno, o paciente apresentou os seguintes resultados laboratoriais: A: 32 ng/dL, APR: 0,1 ng/mL/h, relação A/APR: 320 e potássio 3,1 mEq/L, sendo então diagnosticado HP e dispensado teste confirmatório.
Discussão: Apesar de ser um sinal de alerta chave para o rastreamento do HP, a hipocalemia pode, ao mesmo tempo, atrasar a confirmação diagnóstica em função da sua interferência nos exames de rastreamento, mascarando o HP com resultados falso-negativos. Como ilustrado no caso aqui relatado, a correção da hipocalemia deve ser contemplada sistematicamente no rastreamento do HP.