Introdução: As valvulopatias, no Brasil, apresentam uma incidência significativa, principalmente no que se refere à febre reumática e a própria endocardite infecciosa, situações que potencializam essas doenças. O tratamento é cirúrgico, a partir da ressecção do tecido danificado e a inserção de uma prótese, podendo ser metálica ou biológica. Métodos: Trata-se de um estudo epidemiológico quantitativo, descritivo e retrospectivo realizado através de extração de dados no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, na série temporal de 2020 a 2023, sobre os procedimentos implante de prótese valvar, prótese valvular biológica e sem suporte/anel, prótese valvular mecânica de baixo perfil (disco) e prótese valvular mecânica de duplo folheto. As variáveis incluíram taxa de mortalidade, óbitos e internações, sendo estratificadas por ano de processamento. Além disso, os dados referentes à distribuição dos cirurgiões cardiovasculares foram adquiridos das pesquisas de Demografia Médica de 2020 e 2023 da Associação Médica Brasileira. Resultados: No período analisado, foram registradas 24.274 internações para realização de cirurgia de implante de prótese valvar no Brasil, incluindo mecânicas e biológicas. A região que apresentou a maior quantidade de procedimentos realizados foi a Sudeste, com 10.537 (43,4%), enquanto as regiões Centro-Oeste e Norte apresentaram as menores, com 1.275 (5,3%) e 1.217 (5,2%), respectivamente. A taxa de mortalidade nacional foi de 8,13 com 1.973 óbitos, sendo que as maiores taxas pertenceram também às regiões Centro-Oeste e Norte, com 12,63 e 10,35, respectivamente. Esses dados se correlacionam com o acesso cirúrgico regional no Brasil, de forma que a demografia médica de 2020 indicou uma quantidade de 2.423 cirurgiões cardiovasculares e 2.247 em 2023 no Brasil. Contudo, as regiões com menor quantidade de especialistas foram o Norte e o Centro-Oeste, com 2,6% e 2,7% em 2020 e 8,7% e 9% em 2023, respectivamente. Conclusões: O estudo revelou disparidades regionais significativas no acesso e realização de implantes de prótese valvar, evidenciando a desigualdade na distribuição de especialistas e infraestrutura. A escassez de profissionais capacitados contribuiu para as elevadas taxas de mortalidade, agravadas pela redução no número de cirurgiões cardiovasculares entre 2020 e 2023. Assim, é urgente implementar políticas públicas que promovam a formação e fixação de profissionais em regiões vulneráveis, além de investimentos em infraestrutura hospitalar, a fim de melhorar os desfechos clínicos dos pacientes.