Introdução: O envelhecimento populacional brasileiro destaca a importância do manejo de doenças crônicas não transmissíveis, sendo a hipertensão arterial um dos principais problemas na multimorbidade. Porém, o não investimento em melhoria de qualidade na atenção primária reduz sua resolutividade, sobrecarregando outros níveis assistenciais. Métodos: Estudo longitudinal, quali-quantitativo, realizado em unidade de saúde de complexo acadêmico em São Paulo. Cálculo amostral embasado na população total de adultos cadastrados, considerando a amostra adequada variando entre 3% e 6% sobre a proporção de pacientes complexos na Atenção Primária. Foram elegíveis ao estudo, pacientes pontuando > 2 no “Cartão de Necessidades” contendo obrigatoriamente Hipertensão Arterial para esta análise. Aprovado pelo Comitê de Ética: CAAE 66999523.1.0000.5414. Resultados: Foram acompanhados durante 6 meses, 23 hipertensos, apresentando 2 ou mais doenças crônicas, aplicando-se o instrumento INTERMED antes e após. Construiu-se análise SWOT e diagrama de Ishikawa para entendimento do cenário de gestão. O método SIFE (sentimentos, ideias, funcionalidade e expectativas) sistematizou os atendimentos, registrando-se motivos da não adesão aos anti-hipertensivos prescritos. Identificou-se forte impacto de determinantes sociais na má adesão de pacientes com maior escore geral e social do INTERMED, apresentando problemas de literacia em saúde, confusões sobre significados da hipertensão arterial, desconhecimento de consequências da má adesão e importância da mudança comportamental, atitudes de negação de doença pela ausência de sintomas, fragilidades na motivação para uso contínuo de medicações e mudança de estilo de vida. Dos 23 pacientes acompanhados, 19 mudaram comportamento, aderindo ao anti-hipertensivo após as intervenções com método clínico centrado na pessoa e entrevista motivacional. Casos com multimorbidade física e mental possuíram maiores dificuldades na adesão, pela descompensação do quadro mental levar ao uso irregular dos anti-hipertensivos. Pacientes identificados complexos pelo INTERMED (escore maior que 20), possuíam no mínimo 3 comorbidades associadas à hipertensão, com redução do escore após a intervenção de mudança comportamental. Todos os hipertensos possuíam problemas de entendimento sobre doenças e medicações em uso, prejudicando a adesão terapêutica. Conclusões: A carência do gerenciamento de hipertensos na atenção primária com foco em qualidade leva à perda do acompanhamento longitudinal prioritário para casos complexos, sobrecarregando o Sistema Único de Saúde.