Introdução: Pacientes com circulação pulmonar dependente do canal arterial (CA) representam um desafio terapêutico, especialmente neonatos não candidatos à correção primária. Esses pacientes requerem procedimentos paliativos, como o shunt sistêmico-pulmonar (Blalock-Taussig modificado – BTM) ou a implantação percutânea de stent no CA.
Objetivo: Comparar a eficácia e os desfechos da implantação de stent no CA com a cirurgia BTM em neonatos e lactentes com circulação pulmonar dependente do CA.
Método: Estudo retrospectivo, longitudinal e unicêntrico. Foram incluídos 91 neonatos e lactentes com cardiopatia congênita dependente do CA, internados entre novembro de 2016 e julho de 2024. Destes, 16 (17,6%) foram submetidos à cirurgia BTM (Grupo 1) e 75 (82,4%) à implantação percutânea de stent no CA (Grupo 2). Foram avaliados idade, peso, sexo, tempo de internação, complicações e óbitos. As análises estatísticas foram conduzidas com os testes qui-quadrado de Pearson e Mann-Whitney (SPSS Statistics 21.0), adotando-se significância de p<0,05.
Resultados: A idade média foi de 35,3 dias no G1 e 17,9 dias no G2 (p=0,231). O peso médio foi de 3,7kg no G1 e 3,1kg no G2 (p=0,07). No G1, houve predominância masculina (62,5%), enquanto no G2 predominou o sexo feminino (52,8%) (p=0,269). As principais cardiopatias no G1 foram: atresia tricúspide (31,2%), Tetralogia de Fallot (25,0%) e atresia pulmonar com defeito do septo ventricular (25,0%). No G2, destacaram-se atresia pulmonar com defeito do septo ventricular (29,2%), atresia pulmonar com septo ventricular intacto (20,8%) e Tetralogia de Fallot (19,4%).
O tempo médio de internação foi de 16,3 dias no G1 e 8,5 dias no G2 (p=0,014). Todos os pacientes do G1 apresentaram complicações, sendo sepse a mais prevalente (31,2%). No G2, 77,8% não desenvolveram complicações (p<0,001). As complicações no G2 incluíram sepse (8,3%), insuficiência cardíaca (4,2%), enterocolite (2,8%) e fratura de stent (2,8%). A taxa de mortalidade foi de 43,7% no G1 e 5,5% no G2 (p<0,001).
Conclusão: O implante percutâneo de stent no CA mostrou-se uma estratégia eficaz e segura, associada a menor mortalidade e morbidade em comparação à cirurgia BTM. Os achados reforçam o papel do stent no CA como alternativa viável para a manutenção do fluxo pulmonar em neonatos e lactentes com cardiopatia congênita complexa.