INTRODUÇÃO: Insuficiência Cardíaca (IC) é uma importante causa de mortalidade e necessita de assistência específica, rigorosa e de alto custo. No Brasil, a desigualdade racial afeta vários setores, incluindo a saúde, neste contexto o estudo atual descreve o perfil epidemiológico dos óbitos por IC comparando o impacto racial. MÉTODOS: Estudo ecológico descritivo, usando dados de mortalidade por IC entre 2014-2023, disponíveis na plataforma DATASUS. A análise foi baseada na população negra (cor autodeclarada preta e parda, de acordo com o IBGE) comparada com a não negra (branca, amarela, índigena e ignorada). RESULTADOS: Foram registrados 162.638 óbitos por IC em indivíduos não negros e 124.542 óbitos em pretos/pardos. Quanto a distribuição regional, o Sudeste apresentou o maior número de óbitos em não negros (54,6%) e 40,5% em negros, o Nordeste representou 38,6% dos óbitos de negros, mas 13% em não negros. Em todas regiões, ambos os grupos tiveram tendência de aumento de óbitos, com pico em 2022 e leve diminuição em 2023, mas com disparidades: no Sudeste, ocorreu aumento de 45% de óbitos em negros e 10% em não negros. Na análise por faixa etária, pretos/pardos tiveram 8,5% dos óbitos (10.599) em indivíduos ≤ 50 anos, mais que o dobro da proporção em não negros (4,1%). Na faixa de 30-39 anos, pretos/pardos registraram 2.307 óbitos, 120% a mais que não negros (1.068), e no Norte a diferença é de 580% a mais, padrão repetido na faixa etária de 20-29 anos.Em não negros, a faixa etária a partir de 80 anos representou 53% dos óbitos (vs 37,6% em pretos/pardos). Não negros apresentaram predomínio feminino de óbitos (55% vs. 44,8%), enquanto em negros a proporção foi 51,9% em homens e 48% em mulheres. O número de óbitos sem escolaridade foi de 29,8% em pretos/pardos e 16,1% em não negros. 1,6% com 12 anos de estudo (contra 4,6% em brancos). A escolaridade teve correlação protetora em ambos, mas em negros, ter 12 ou mais anos de escolaridade se relacionou com uma redução de 82,68% de óbitos (vs 62,1%). CONCLUSÃO: A desigualdade racial apresenta impactos no perfil de mortalidade por IC. Pessoas negras tem maior risco de óbito < 50 anos, enquanto não negras seguem a tendência global de óbitos na faixa idosa. Os dados também indicam que a tendencia de crescimento de mortalidade varia entre as populações e regiões. Além disso, o impacto da escolaridade, especialmente para negros, deve ser destacado. Tais dados mostram a necessidade de políticas públicas educacionais e assistencias em saúde para a lidar com a desigualdade racial em diferentes regiões.