Introdução: Em países em desenvolvimento, com o Brasil, estratégia fármaco-invasiva (EFI) tenha se consolidado como alternativa eficaz à intervenção coronária percutânea primária (ICPP) no IAMCSST. Há poucos estudos avaliando a prevalência de choque cardiogênico nesta população, assim como o impacto da perfusão miocárdica em pacientes com choque cardiogênico tratados por esse modelo.
Métodos: Entre janeiro de 2010 e setembro de 2020, 2.710 pacientes foram tratados por uma rede de infarto com EFI em 14 centros primários. Tenecteplase (TNK) foi administrado até 12 horas após o início dos sintomas, caso o paciente não chegasse a um hospital com ICPP em até 90 minutos. Os pacientes foram sistematicamente transferidos para um hospital terciário único, onde realizaram ICPP entre 2 e 24 horas após a fibrinólise ou imediatamente (em casos de angioplastia de resgate). Os dados foram coletados prospectivamente, avaliando a perfusão epicárdica pelo escore TIMI e a perfusão miocárdica pelo escore Blush. Os pacientes foram divididos em dois grupos: com choque cardiogênico (CC) e sem choque cardiogênico (controle).
Resultados: Dos 2.710 pacientes submetidos à EFI, 365 (13,4%) evoluíram para CC. O grupo com CC apresentou maior idade (61,0 vs. 57,8 anos; p<0,001), prevalência de diabetes (38,6% vs. 29,8%; p<0,001), doença renal crônica (15,6% vs. 5,3%; p<0,001), doença vascular periférica (6,5% vs. 3,9%; p=0,023), hipertensão arterial sistêmica (65,2% vs. 59,4%; p=0,036), escore GRACE (177,4 vs. 107,1; p<0,001), escore CRUSADE (40,6 vs. 24,8; p<0,001) e menor taxa de sucesso com fibrinólise (29,5% vs. 71,3%; p<0,001). Na avaliação da perfusão microvascular, o grupo CC apresentou piores resultados iniciais e finais: TIMI 2/3 inicial (53,0% vs. 79,0%; p<0,001), TIMI 2/3 final (86,2% vs. 93,8%; p<0,001) e Blush 2/3 final (48,5% vs. 69,9%; p<0,001). Pacientes com CC também exibiram maior mortalidade peri-procedimento (9,0% vs. 0,6%; p<0,001) e intra-hospitalar (34,2% vs. 1,5%; p<0,001).
Conclusão: Nesta ampla coorte de pacientes com IAMCSST atendidos em uma rede pública de São Paulo, a prevalência de choque cardiogênico foi elevada, afetando 1 em cada 7 indivíduos. Pacientes com choque cardiogênico apresentaram pior perfusão epicárdica e microvascular em comparação ao grupo controle, o que deve ter contribuído para desfechos clínicos desfavoráveis.