Fundamentos: Dengue é doença que acomete milhões de pessoas no mundo anualmente e bilhões estão sob risco. Embora um número pequeno de pacientes evolua com complicações cardiovasculares mais graves, é importante a atenção a esses casos.
Caso: Paciente feminina, 60 anos, admitida com história de mialgia e febre há 10 dias, com antígeno NS1 para dengue reagente. Passou a apresentar dor torácica do tipo aperto, associado a palpitações e dispneia, tendo procurado atendimento na emergência. Foi avaliada e liberada e devido persistência da dor, retornou à emergência. Na admissão, evidenciado alteração eletrocardiográfica com baixa voltagem e supra desnivelamento do segmento ST difusos, com elevação de marcadores cardíacos (troponina: 1038 e BNP: 29290 pg/mL). Encaminhada para leito monitorizado devido à suspeita de miopericardite secundária a quadro de dengue grave. Apresentou durante a evolução, sinais de baixo débito e má perfusão, com necessidade de introdução de inotrópico (dobutamina até dose de 10 mcg/kg/min para estabilização). Exames de chegada apontando derrames cavitários e disfunção ventricular (Ecocardiograma com DDFVE: 38 mm; septo:11; PPVE: 10 mm, remodelamento concêntrico do VE e hipocinesia difusa do VE com FE de 39%, disfunção diastólica do VE grau 1 e derrame pericárdico moderado, sem sinais de repercussão). Quatro dias após a admissão e já em uso de inotrópico, evoluiu com sinais clínicos de tamponamento cardíaco, confirmado com aumento do volume de derrame pericárdico, tendo prosseguido realização de punção de Marfan para drenagem pericárdica com saída de cerca de 200ml de líquido amarelo citrino. Após drenagem, paciente apresentou evolução clínica satisfatória, com possibilidade de desmame e retirada de inotrópico e ajuste de medicações para disfunção ventricular. Submetida a novo ecocardiograma (7 dias após admissão), apontando recuperação da função sistólica e volume bem menor do derrame pericárdico, ainda com leve aumento da espessura e refringência miocárdica. Recebeu alta da unidade intensiva após 9 dias da internação, com melhora clínica significativa, em uso de colchicina, valsartana, bisoprolol, espironolactona e atorvastatina para ajuste de medicações em enfermaria e com programação de realizar ressonância cardíaca ambulatorialmente (devido realização de micro pigmentação recente em sobrancelhas).
Conclusões: As manifestações cardiológicas da dengue podem ser graves como a relatada no caso, levando a colapso hemodinâmico e morte se as medidas adequadas não forem tomadas prontamente.