Introdução: A cardiomiopatia periparto (CMPP) é uma cardiomiopatia dilatada rara e potencialmente fatal que ocorre no período periparto em mulheres sem cardiopatia prévia. Como apresenta caráter agudo, com potencial de deterioração clínica rápida, necessita de precoce identificação e início de tratamento específico.
Relato de caso: Mulher, 30 anos, G3P3A0, tabagista, asmática, procura hospital no 7º dia pós parto com dispneia progressiva nos últimos 2 dias. Já à admissão, taquidispneia e dessaturação, sem resposta à medidas clínicas para broncoespasmo, submetida à intubação orotraqueal e necessidade de noradrenalina. Ao exame físico, crepitações pulmonares bilaterais, POCUS com linhas B difusas, disfunção biventricular, importante de VE, sem outras alterações. Exames laboratoriais com leucocitose, aumento de PCR e procalcitonina, piora da função renal, BNP e troponina elevados. Realizado TC de tórax com vidro fosco difuso, ECO TT com hipocontratilidade difusa do VE, FE de 30%, hipocontratilidade discreta do VD, angioTC de tórax sem tromboembolismo pulmonar, USG transvaginal com achados pós parto habituais. Assim, foi iniciado antibioticoterapia, diuréticos e vasodilatação com nitroprussiato após desmame de noradrenalina. Visto a possibilidade de CMPP, foi prescrito, também, carbegolina, logo à admissão, após resultado de ECO TT realizado. Evoluiu com melhora da congestão sistêmica, sendo extubada no 5º dia de internação hospitalar. Recebeu alta com tratamento otimizado para insuficiência cardíaca e programação de realização de carbegolina 0,5mg por 6 semanas, já realizada 2 doses anteriores de 1mg durante internação. Retornou em consulta assintomática e aguarda novo ECO TT e ressonância cardíaca para reavaliação de função ventricular.
Discussão: Este caso destaca a importância de aventarmos hipóteses diagnósticas raras, mesmo com outros diagnósticos associados (provável quadro séptico pulmonar). Os exames complementares são fundamentais para o diagnóstico e estratificação de risco da CMPP. Estudos clínicos sugerem que os produtos da degradação da prolactina podem induzir a CMPP, sendo que a supressão farmacológica da produção de prolactina pelo agonista do receptor de dopamina D2 - cabergolina demonstrou resultados satisfatórios na resposta terapêutica.
Conclusão: É importante enfatizar a evolução clínica satisfatória com o uso dessa medicação que é acessível na maioria dos centros de referência. Portanto, deve ser considerado como adjuvante às demais opções terapêuticas para recuperação mais rápida da função ventricular.