Introdução: A prevalência da doença valvar tem aumentado, sendo associada a significativa morbimortalidade e frequentemente exigindo intervenções para melhora da sobrevida. No entanto, os escores de risco existentes foram baseados em populações com perfis distintos do brasileiro, onde a doença reumática ainda é altamente prevalente. Objetivos: Análise de pacientes submetidos a cirurgia valvar e identificar novos preditores de mortalidade. Métodos: Estudo unicêntrico retrospectivo com 796 pacientes submetidos a cirurgia valvar no Brasil. Foram analisados dados clínicos e epidemiológicos, e desfechos cirúrgicos em 30 dias. Resultados: A idade média foi de 58 ±15 anos, sendo 57,7% do sexo masculino. As comorbidades mais comuns foram hipertensão (60,5%), fibrilação atrial (29,6%), diabetes (18,5%), AVC prévio (8,9%) e cirurgia cardíaca prévia (29,6%). O principal sintoma foi dispneia, em 83,2% dos pacientes, sendo 66,2% em classe funcional III ou IV de NYHA. A fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) foi de 56,9 ±11,8% e a pressão sistólica da artéria pulmonar 48,3 ±19,1 mmHg. As doenças valvares anatomicamente importantes mais prevalentes foram insuficiência mitral (29,9%), estenose mitral (13,9%), insuficiência aórtica (11,6%), estenose aórtica (24,6%) e insuficiência tricúspide (10,6%). A mortalidade geral em 30 dias foi 14,2%. AVC ocorreu em 1,9% dos pacientes, 14,1% apresentaram sangramentos com necessidade de transfusão, 7,4% desenvolveram infecção de ferida operatória, 4,4% tiveram endocardite infecciosa e 7,3% necessitaram de reabordagem. Fibrilação ou flutter atrial ocorreram em 17,0% dos pacientes e marcapasso definitivo foi implantado em 3,0% dos casos. Na análise de regressão logística, idade, fibrilação atrial, FEVE, hemoglobina, clearance de creatinina e tempo de circulação extracorpórea foram identificados como preditores de mortalidade em 30 dias (Figura 1). Foi desenvolvido um novo escore de risco usando a fórmula: 1,118 + (idade × 0,027) + (FEVE × -0,033) + (hemoglobina × -0,257) + (clearance de creatinina × -0,021) + (tempo de bypass × 0,011) + (diabetes × 0,513) + (fibrilação atrial × 0,805). O escore foi um preditor de mortalidade em 30 dias (OR 2,725, IC 95% 2,210–3,361, p<0,001) e demonstrou boa capacidade discriminativa (AUC 0,813, Figura 2). Conclusão: Em pacientes brasileiros submetidos a cirurgia valvar, um novo escore de risco baseado em idade, FEVE, hemoglobina, clearance de creatinina, tempo de circulação extracorpórea e histórico de fibrilação atrial foi identificado como um forte preditor de mortalidade geral em 30 dias