Introdução: O implante percutâneo de válvula aórtica (TAVI) é amplamente utilizado no tratamento da estenose aórtica em pacientes de alto risco cirúrgico. O conceito "TAVI-in-TAVI" refere-se a reintervenção percutânea em pacientes previamente submetidos ao procedimento, devido a falência da bioprótese. Com o aumento da longevidade e do uso do TAVI, esse cenário tende a se tornar cada vez mais frequente. Relatamos um caso de uma TAVI transfemoral em paciente muito idoso, previamente submetido a TAVI transapical.
Métodos: Paciente masculino, 90 anos, hipertenso, diabético, com antecedente de cirurgia de revascularização miocárdica e TAVI transapical (TAVI-TA) com bioprótese balão-expansível há 10 anos. Evoluiu com insuficiência cardíaca por deterioração estrutural da válvula, impactando sua qualidade de vida. Apesar da idade avançada, apresentava boa funcionalidade. O ecocardiograma mostrou fração de ejeção de 43%, leve dilatação das câmaras esquerdas e bioprótese aórtica com fibrocalcificação, velocidade de pico de 4,3 m/s, gradiente máximo de 76 mmHg, gradiente médio de 46 mmHg e área valvar efetiva de 0,8 cm² (0,54 cm²/m²), com insuficiência discreta. O Heart Team indicou TAVI-in-TAVI via transfemoral.
Procedimento: O paciente foi submetido a TAVI sob anestesia geral e monitorização ecocardiográfica. Realizou-se pré-dilatação da bioprótese com balão semi-complacente de 20 mm. Foi implantada uma bioprótese autoexpansível Evolut R 29 mm sob rapid pacing, na segunda tentativa. Devido à hipoexpansão da bioprótese prévia, realizou-se pós-dilatação com balão não complacente de 24 mm. O controle angiográfico e ecocardiográfico demonstrou ausência de insuficiência aórtica e gradiente máximo de 5 mmHg (Figura).
Resultados: O paciente recebeu alta após quatro dias, em classe funcional I, sem piora da função renal. No seguimento ambulatorial de um mês, manteve-se assintomático, sem novas internações. O ecocardiograma demonstrou normalização da fração de ejeção, redução das cavidades cardíacas e prótese normofuncionante.
Conclusões: O TAVI-in-TAVI é uma estratégia eficaz para o manejo da falência de bioprótese aórtica. Com o aumento das indicações de TAVI, esse cenário será cada vez mais comum. A escolha de uma prótese autoexpansível supra-anular foi eficaz, com necessidade de pós-dilatação anular para otimização do resultado. Relatos como este contribuem para ampliar a experiência clínica e fortalecer o conhecimento sobre essa abordagem.