Introdução: O acometimento valvar é uma das principais manifestações da febre reumática. Em jovens, o diagnóstico muitas vezes ocorre tardiamente, já com complicações, exigindo múltiplas intervenções valvares ao longo da vida.
Relato de caso: Homem, 44 anos, com valvopatia mitral e aórtica reumática, submetido à troca de ambas as válvulas aos 14 anos, necessitando de três novas abordagens, a última há quatro anos (biopróteses), além de acidente vascular cerebral prévio. Evoluiu com dispneia aos esforços habituais. Ecocardiograma revelou fração de ejeção de 20%, disfunção importante do ventrículo direito e insuficiência central da bioprótese aórtica. Para excluir cardite reumática ativa, foram realizados PET-CT e cintilografia com gálio, ambos negativos. Devido às múltiplas comorbidades e quatro cirurgias prévias, optou-se por abordagem percutânea. A angiotomografia evidenciou área de 230 mm² da bioprótese aórtica, diâmetro de 18 mm e perímetro de 54 mm, além de valve-to-coronary ostium (VTC) para tronco da coronária esquerda reduzido (3,5 mm). Como havia lesão de 70% na coronária descendente anterior, foi planejada angioplastia prévia, realizada com sucesso. Para reduzir o risco de mismatch protético, foi feita fratura da bioprótese com balão de alta pressão antes do implante da nova prótese. Realizado implante de prótese nº 23 sem intercorrências, com gradiente médio VE-Ao de 9 mmHg e área valvar de 1,7 cm², evoluindo com melhora clínica.
Discussão: O avanço dos procedimentos percutâneos possibilitou o tratamento de pacientes com alto risco cirúrgico. Em jovens, essa abordagem pode limitar opções futuras. Neste caso, optou-se por tratamento percutâneo visando melhora sintomática e remodelamento reverso, permitindo futura cirurgia quando necessário. Diversos fatores anatômicos influenciam no valve-in-valve aórtico, como altura das coronárias, diâmetro interno da bioprótese e grau de calcificação. VTC ≤ 4 mm aumenta o risco de obstrução coronariana. Para mitigá-lo, destacam-se técnicas como Basilica (laceração do folheto para evitar obstrução) e Chaminé (stent protruso na aorta para garantir fluxo).
Conclusão: Os avanços na terapia transcateter valvar permitem tratar pacientes com alto risco cirúrgico, inclusive jovens. O planejamento com métodos de imagem é essencial para prever e reduzir complicações.