INTRODUÇÃO: Tanto a hipotensão ortostática (HO) como a hipertensão ortostática (HrO) se associam ao maior risco de eventos adversos relacionados ao tratamento anti-hipertensivo. A população idosa constitui um grupo de alto risco para estes fenômenos, especialmente na presença de critérios de fragilidade. A natureza dinâmica e adaptativa da pressão arterial ortostática (PAO) requere ao menos duas medidas sequenciais da PA, após 1 e 3 minutos de pé. Diferentes padrões de resposta ortostática da PA são possíveis, incluindo a migração de um fenótipo para outro ao longo de poucos minutos. Tais padrões são ainda são pouco compreendidos e o impacto da fragilidade nessas transições tampouco está elucidado. O presente estudo tem como objetivo caracterizar as variações ortostáticas da PA durante o exame clínico em idosos com tratamento anti-hipertensivo, investigando sua relação com a fragilidade.
MÉTODOS: Estudo transversal realizado em um centro terciário de hipertensão, incluindo pacientes com idade ≥60 anos. A fragilidade foi avaliada pela escala clínica de fragilidade CFS, classificando os participantes como não frágeis (CFS <5) ou frágeis (CFS ≥5). A PAO foi medida após 1 e 3 minutos de pé e definiu-se HO e HrO como a redução ou aumento da PA sistólica ≥20 mmHg ou da PA diastólica ≥10 mmHg. Intolerância Ortostática (IO) foi definida pela presença de sintomas ao ortostatismo. Modelos de regressão logística foram aplicados para avaliar as associações entre fragilidade, IO e padrões de PAO.
RESULTADOS: Foram incluídos 461 idosos hipertensos, com média de idade 72,5 ± 7,0 anos, 70% mulheres, PAS/PAD média de consultório = 150 ± 23 / 79 ± 12 mmHg, 10,4% (n=48) classificados como frágeis. Os padrões de PAO e suas transições entre os minutos 1 e 3 estão ilustrados no diagrama de Sankey (Figura 1). Cerca de 50% dos indivíduos com HO ou HrO no min1 normalizaram a PA até o min3, enquanto percentagem semelhante de indivíduos com PA normal no min1 desenvolveram HO ou HrO no min3. Indivíduos frágeis apresentaram maior frequência de IO (19,6% vs. 10%, p=0,048), de HrO (25% vs. 9%, p<0,001) e de HO (21% vs. 10%, p=0,02). Quando avaliada em seus componentes sistólico e diastólico, a HO diastólica (OR 3,32, p=0,01), mas não a HO sistólica (OR 1,29, p=0,642), foi significativamente associada à fragilidade (Figura 2).
CONCLUSÕES: Na população estudada, a fragilidade correlacionou-se com respostas anormais da PAO, especialmente HO diastólica e HrO. As transições de padrão de PAO entre o min1 e o min3 ressaltam a importância da repetição sequencial das medidas.