Fundamento: A insuficiência cardíaca (IC) está associada a maior mortalidade na doença valvar aórtica e a dispneia é o principal sintoma de indicação de intervenção cirúrgica nos pacientes com doença valvar aórtica (DVA) significativa. Mas, pouco se sabe sobre as diferenças de prognóstico a longo prazo e os preditores de morte em mulheres e homens.
Métodos: Este estudo retrospectivo envolveu a análise de 568 pacientes diagnosticados com IC e DVA no período de 2009 a 2022. O objetivo deste estudo foi analisar dados basais clínicos e ecocardiográficos, para avaliar a mortalidade e os fatores preditivos de óbito por todas as causas em mulheres e homens. A análise foi realizada separadamente para os pacientes com estenose aórtica (EAo) e insuficiência aórtica (IAo) e dupla lesão aórtica (DLA). Utilizou-se o método de Kaplan-Meier (K-M) e os métodos de riscos proporcionais de Cox para análise das taxas de mortalidade e preditores de morte.
Resultados: Estudamos 568 pacientes, dos quais 327 (57,6%) eram do sexo masculino. Durante um seguimento médio de 3,8 ± 1,6 anos, a mortalidade foi semelhante entre homens (N = 81; 25%) e mulheres (N = 69; 29%) (p = NS). As características clínicas e as variáveis ecocardiográficas não apresentaram diferenças significativas entre os pacientes vivos e os que evoluíram a óbito, considerando o total da amostra, assim como os subgrupos com estenose aórtica (EAo), insuficiência aórtica (IAo) e disfunção do ventrículo esquerdo (DLA). A mortalidade cumulativa em pacientes com IC por doença DVA foi semelhante entre mulheres e homens (Figura 1). Esse resultado foi o mesmo para os diferentes tipos de lesões valvares, como EAo, IAo e DLA (Figura 2). A regressão de Cox para óbito, ajustada para variáveis com p < 0,15, não identificou nenhuma variável independen associada à mortalidade no modelo estatístico que incluiu ambas as lesões valvares. No entanto, a análise multivariada foi realizada separadamente para EAo e IAo revelou que apenas a idade foi um preditor independente de mortalidade somente nos pacientes com IAo [HR = 1,03 (IC 95%: 1,01-1,05); p = 0,005].
Conclusão: A mortalidade por todas as causas foi semelhante entre os gêneros, mas pacientes mais idosos com IAo apresentaram um risco aumentado de morte. Este estudo mostrou que pacientes com IC e DVA avançada compartilham um prognóstico igualmente desfavorável em um curto período de seguimento. Diante disso, a otimização do tratamento medicamentoso e a priorização da intervenção cirúrgica devem ser estratégias centrais para melhorar a sobrevida desse grupo de pacientes.