Introdução: Embora as doenças cardiovasculares (DCV) ainda representem a principal causa de morte no Brasil e no mundo, estudos recentes mostram nova evidência de transição epidemiológica global. Neoplasias ultrapassaram DCV como primeira causa de morte em alguns países desenvolvidos. Objetivamos, assim, avaliar tendências de mortalidade por DCV e neoplasias no Brasil de 1990 a 2021, bem como previsões até 2050. Métodos: Dados sobre mortalidade foram coletados através do relatório Global Burden of Diseases (GBD), no período entre 1990 e 2021. Previsões de mortalidade até 2050 foram coletados do GBD Foresight. Análise de tendências foi realizada por modelos de regressão por pontos de inflexão (joinpoints) através do Joinpoint Regression Program do National Cancer Institute. A mudança percentual anual média (MPAM) em dado período de tempo é reportada. Resultados: A mortalidade por DCV ajustada por idade caiu de 334 (intervalo de credibilidade de 95%: 310-345) por 100.000 indivíduos em 1990 para 154 (139-162) em 2021, com MPAM de -2,4% (intervalo de confiança de 95%: -2,4 a -2,4, p <0,001). Em análise de tendências para 2050, estima-se que esta mortalidade ajustada por idade diminua para 97 (70-138) por 100.000, com MPAM de 2021 a 2050 de -1,6% (-1,7 a -1,5, p <0,001). A mortalidade por neoplasias ajustada por idade foi de 126 (120-130) por 100.000 indivíduos em 1990 para 111 (103-116) em 2021, com MPAM de -0,4% (-0,4 a -0,3, p <0,001). Em 2050, estima-se que a mortalidade por neoplasias ajustada por idade seja de 107 (86-132) por 100.000 indivíduos, com MPAM de 2021 a 2050 de -0,2% (-0,2 a -0,2, p <0,001). Apesar da estimativa de maior número de mortes por DCV do que por neoplasias em 2050 (mortalidade bruta), a taxa de mortalidade ajustada por idade por neoplasias deve ultrapassar a taxa por DCV a partir de 2044 para ambos os sexos, 2039 para o sexo feminino e 2049 para o sexo masculino. Tendências são mostradas na Figura. Conclusões: A tendência de nova transição epidemiológica também ocorre no Brasil. Destacamos três principais pontos: neoplasias devem se tornar a principal causa de morte ajustada por idade no Brasil em aproximadamente 20 anos; comparando-se sexo masculino e feminino, neoplasias devem ultrapassar DCV primeiro no sexo feminino; e, apesar da tendência de queda da mortalidade por DCV, percebe-se notável desaceleração. Esses dados devem guiar ações para continuar o aprimoramento da prevenção e tratamento oncológico, especialmente no sexo feminino, além de reforçar medidas para driblar a desaceleração da queda de mortalidade por DCV.