Introdução: Doenças cardiovasculares monogênicas representam um desafio
diagnóstico relevante, dada sua frequência e impacto clínico. Populações
miscigenadas são sub-representadas em grandes estudos genéticos. Nosso objetivo
foi avaliar o rendimento diagnóstico e caracterizar o genótipo de pacientes brasileiros
com doenças cardiovasculares (DCV) genéticas.
Métodos: Realizamos um registro prospectivo multicêntrico de pacientes brasileiros
com DCV genética, incluindo cardiomiopatias (CM), arritmias, dislipidemias (DLP),
doenças da aorta torácica (DAT) e cardiopatias congênitas (CC). Foram coletados
dados de prontuário e avaliação clínica. O sequenciamento do exoma completo ou do
genoma completo foi realizado para todos os probandos, com variantes classificadas
de acordo com as diretrizes do ACMG (Colégio Americano de Genética Médica e
Genômica). Os membros da família foram avaliados usando sequenciamento de
Sanger.
Resultados: De janeiro de 2022 a agosto de 2024 foram incluídos 3865 probandos
com fenótipos relacionados a doenças cardiovasculares monogênicas, com idade
média de 46 (0-91) anos, sendo 46% do sexo feminino. Os diagnósticos clínicos dos
probandos foram: cardiomiopatia em 2366 (61,2%), aortopatia em 579 (15%),
dislipidemia em 344 (8,9%), arritmia em 314 (8,1%), cardiopatia congênita em 258
(6,7%). Foram identificadas variantes genéticas de interesse clínico em 53,8% dos
casos (28,9% de variantes patogênicas/provavelmente patogênicas (P/LP) e 24,8% de
variantes de significado incerto (VUS)), enquanto em 46% dos casos não foram
identificadas variantes de interesse clínico acionáveis. Nos pacientes com
cardiopatias, que correspondem à maior parte da amostra, a maior taxa de
positividade foi nas cardiopatias hipertróficas (1027 casos, com positividade de 45%),
seguida de amiloidose (62 casos, positividade de 44%). Os genes mais frequentemente identificados e as positividades por grupo estão exibidos na imagem em anexo.
Conclusão: Este registro em larga escala de pacientes brasileiros com DCV genética
revelou uma alta proporção de variantes P/LP em diversos fenótipos e identificou os
genes mais frequentemente implicados.Esta iniciativa de Medicina de Precisão em larga escala no Brasil identificou efetivamente variantes genéticas causais, genes associados e permitiu a triagem de familiares em pacientes com doenças cardiovasculares genéticas (DCV). Esses resultados reforçam o potencial de integração de estratégias semelhantes em sistemas de saúde, especialmente em países com populações mistas, para melhorar o diagnóstico precoce e o atendimento personalizado.