Introdução: Define-se como efeito do avental branco (EAB) o aumento da pressão arterial sistólica (PAS) e/ou diastólica (PAD) no ambiente de consultório em comparação aos valores médios obtidos fora desse ambiente pela MAPA ou MRPA. Além de dificultar o diagnóstico e o seguimento dos pacientes hipertensos, o EAB foi associado a aumento no risco de eventos cardiovasculares (CV), incluindo a fibrilação atrial (FA). Embora se trate de um fenômeno com amplo espectro de variação pressórica (Delta PA), não sabemos ainda se existe proporcionalidade entre a magnitude do EAB, que pode variar de < 20mmHg a > 60mmHg de Delta PA, e o risco de eventos CV. O objetivo deste estudo foi investigar e definir graus de EAB, avaliando sua possível associação com FA e acidente vascular cerebral (AVC).Métodos: O estudo MERCURY-2 foi uma análise transversal de indivíduos hipertensos atendidos em um centro de referência em hipertensão. Todos os pacientes foram submetidos sequencialmente a medição da pressão arterial de consultório (PAC: média das últimas duas de três medições consecutivas) e MAPA de 24h. O EAB foi definido pela diferença entre a PAC e a PA média de vigília na MAPA, sendo classificado em quatro categorias conforme a magnitude do Delta PA:G1(PAS <20mmHg e/ou PAD<10mmHg), G2(PAS entre 20 e <40mmHg e/ou PAD entre 10 e <20mmHg), G3(PAS entre 40 e <60mmHg e/ou PAD entre 20 e <30mmHg) e G4(PAS ≥60 mmHg e/ou PAD ≥30 mmHg). Resultados: Entre os 891 participantes (69,5% mulheres, mediana [IQR] de idade: 68 [60-75] anos), a magnitude média do EAB foi de 22,5 mmHg (IQR 8,5 a 37,5) para a PAS e 4,0 mmHg (IQR -3,5 a 11,0) para a PAD. Na análise de regressão linear, sexo feminino (OR 5,6 [IC 95% 2,1 a 9,0], p=0,002) e idade (OR 3,8 [IC 95% 2,5 a 5,1] a cada 10 anos, p<0,001) foram preditores independentes do EAB para a PAS. O sexo feminino (OR 3,6 [IC 95% 1,8 a 5,3], p<0,001), mas não a idade, foi um preditor independente de EAB para a PAD. Como evidenciado na Figura 1, a análise da associação entre as categorias de EAB e a prevalência de FA ou AVC mostrou que, em comparação com o grupo de referência (G1), a prevalência de FA foi significativamente maior no grupo com EAB mais intenso (G4) (OR 2,75; p=0,03). A prevalência de AVC apresentou um gradiente crescente conforme a magnitude do EAB. Conclusão: A magnitude do EAB pode estar associada a maior risco de FA e piores desfechos clínicos.Estes achados indicam que a quantificação do EAB por meio da Escala MERCURY pode refinar a avaliação prognóstica desses pacientes.