Introdução: A Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA) e a Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) avaliam diferentes aspectos do comportamento da pressão arterial (PA) fora do consultório e podem não ser diretamente comparáveis. Essas diferenças podem influenciar decisões terapêuticas, mas seu impacto na hipertensão resistente (HR) ainda não foi investigado. O estudo MERCURY avaliou a concordância entre um protocolo padronizado de MRPA de 7 dias e a MAPA de 24 horas em pacientes com HR.
Métodos: Foram recrutados 38 pacientes com HR (idade média: 65,9 ± 11,8 anos; 69% mulheres; média de 3,9 ± 1,5 medicamentos anti-hipertensivos) de um centro de referência para o tratamento da hipertensão e submetidos sequencialmente a MAPA de 24 horas e a MRPA de 7 dias. A MRPA foi realizada com os próprios dispositivos dos pacientes após verificação da técnica de medição, compreensão do protocolo e comparação das leituras do dispositivo do paciente com um dispositivo padrão. Os valores médios da PA obtidos pela MRPA foram comparados com as médias da PA na vigília pela MAPA usando testes t pareados. A concordância entre os métodos foi avaliada por gráficos de Bland-Altman, diagramas de Sankey e coeficientes de correlação intraclasse (CCI).
Resultados: A pressão arterial sistólica (PAS) média foi significativamente maior na MAPA do que na MRPA (129,3 ± 12,3 mmHg vs. 124,2 ± 11,8 mmHg; p=0,009), enquanto a pressão arterial diastólica (PAD) foi semelhante (76,8 ± 10,3 mmHg vs. 76,8 ± 9,7 mmHg; p=1,0). A concordância entre os métodos foi baixa para a PAS (CCI = 0,482) e moderada para a PAD (CCI = 0,663). Os gráficos de Bland-Altman demonstraram ampla variabilidade entre os métodos, apesar do viés próximo de zero. Considerando um alvo de PA <130/80 mmHg, a concordância entre os métodos na classificação dos pacientes como dentro ou fora da meta foi de 65% para a PAS e 70% para a PAD, indicando que um em cada três pacientes com HR seria classificado de maneira diferente dependendo do método utilizado, assim como ilustrado na Figura 1.
Conclusão: A concordância entre a MRPA e a MAPA de 24 horas em indivíduos com HR foi baixa, especialmente para a PAS. Portanto, a MRPA e a MAPA devem ser consideradas como ferramentas complementares, e não intercambiáveis, no manejo da HR.