Introdução: A baixa adesão medicamentosa (AM) é uma das principais barreiras para o controle eficaz da pressão arterial e continua sendo a principal causa da hipertensão resistente (HR). Crescente atenção tem sido direcionada a marcadores comportamentais de AM, como a religiosidade, que foi associada a melhor adesão ao tratamento anti-hipertensivo. No entanto, o papel da religiosidade na AM de indivíduos com HR ainda é desconhecido. Nosso objetivo foi estudar a associação entre religiosidade e AM em pacientes com HR, investigando sua interação com a saúde mental e o estilo de vida.
Métodos: O estudo SOUL foi um estudo transversal avaliando indivíduos com HR atendidos consecutivamente em um centro de referência em hipertensão. A adesão ao tratamento anti-hipertensivo foi avaliada por meio da Escala de Adesão Medicamentosa de Morisky-4 (MMAS-4). Os pacientes foram categorizados como altamente aderentes (MMAS-4 = 0) ou pouco aderentes (MMAS-4 = 4). Os dois grupos foram comparados em relação à religiosidade, qualidades morais, sintomas depressivos e estilo de vida. A religiosidade Organizacional, Não Organizacional e Intrínseca foram avaliadas pelo Duke University Religion Index (DUREL). Baixa religiosidade foi definida pelo menor decil da pontuação total do DUREL (≤15). Para comparações de variáveis quantitativas entre grupos, foram utilizados testes não paramétricos de Mann-Whitney. Testes do qui-quadrado e exato de Fisher foram aplicados para variáveis qualitativas. Regressões lineares foram conduzidas pelo método de Mínimos Quadrados Ordinários.
Resultados: Um total de 148 participantes (59% mulheres; idade média de 62 ± 5,4 anos) com HR (em uso de 3,9 ± 0,2 classes de anti-hipertensivos) foram categorizados como altamente aderentes (AA; n=78) ou pouco aderentes (PA; n=70). As médias de religiosidade (p=0,769), compaixão (p=1,0), gratidão (p=0,852) e perdão (p=0,092) foram semelhantes entre os grupos AA e PA. No entanto, após ajuste por sexo e idade, baixa religiosidade foi um forte preditor de PA (Organizacional: OR 11,38, p=0,07; Não Organizacional: OR não calculável, p=0,022; Intrínseca: OR 7,23, p=0,053). Sintomas depressivos (mediana BDI: 21 vs. 12; p=0,015), qualidade do sono (p<0,001) e atividade física (p<0,001) também foram associados a AM.
Conclusões: Nesta amostra de pacientes com HR, baixa religiosidade esteve fortemente associada a adesão, assim como sintomas depressivos, qualidade do sono e inatividade física. Qualidades morais não foram preditoras de AM.